Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 009: Antropologia da Economia
Agoniados: ética e moralidades no trabalho para levar água às casas no bairro da Chatuba
Em um bairro da Baixada Fluminense, a Chatuba de Mesquita (RJ), há uma rede complexa de sistemas informais de abastecimento produzida através do trabalho monetizado de autoconstrução dos moradores. Essa rede é formada principalmente por ligações feitas de maneira clandestina nos troncos distribuidores de água do sistema formal e pela perfuração de poços artesianos. Contudo, os moradores que trabalham na construção destas infraestruturas, são muitas vezes, desprestigiados Um dos moradores chegou a defini-los como “agoniados”. Este desprestígio se fundamenta principalmente no fato de que estes trabalhadores cobram um valor de seus vizinhos para a execução de seus serviços. Os agoniados seriam, portanto, uma categoria desprestigiada de trabalhadores, que supostamente se aproveitam da fraqueza e da agonia dos vizinhos por estarem sem acesso à água, para “arrancar” algum dinheiro deles. Em casos extremos estas práticas podem até mesmo carregar uma conotação de covardia. O termo faz referência ao fato de que estes sujeitos, em agonia financeira, se aproveitam da agonia hídrica do próximo. É possível observar, assim, um circuito específico que nos mostra formas de ganhar e gastar dinheiro, que, nesse caso, podemos chamar de dinheiro que se gasta ou se ganha com a agonia. Porém, a má fama desses indivíduos perante seus vizinhos se contrasta com a forma como eles enxergam seu próprio trabalho: alguns deles falam orgulhosamente do feito de ter “colocado água” nas casas do bairro, em momentos de falta extrema do recurso. Tentando não cair em romantizações comuns ao falar sobre autoconstrução, meu argumento é que estes trabalhadores, visto muitas vezes por outros moradores de maneira negativa, na realidade produzem o bairro da Chatuba e, tendo em vista que a água é um bem essencial para a vida humana, é a agonia e o agoniado que tornam a vida possível no bairro.
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