Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 054: Etnografia da e na cidade: o viver no contexto urbano em suas formas sensíveis
Implicações da concessão privada dos cemitérios da Cidade de São Paulo
O município de São Paulo tem sido objeto de políticas neoliberais na última década. Tais políticas
voltadas à concessão da administração de diversos serviços e logradouros públicos foi seguida pelos
sucessivos administradores, João Dória, Bruno Covas e Ricardo Nunes, prática também adotada pelo atual
governador Tarcísio Freitas. Nessa lógica, os parques municipais foram os primeiros a serem concedidos à
iniciativa privada, como o Ibirapuera em 2019 e o parque Villa-Lobos em 2022, hoje administrados pela
empresa Construcap e o Consórcio Novos Parques Urbanos. Entretanto, entre esses serviços públicos que foram
concedidos à iniciativa privada, a concessão dos cemitérios municipais ocorreu de forma sútil, e com pouco
alarde da imprensa. Veiculadas em portais de notícias, a discussão sobre a privatização dos serviços
funerários começou a ser debatida em 2017, e atualmente é alvo de inquérito do Ministério Público Estadual.
A justificativa da gestão atual da prefeitura de São Paulo para a privatização desses serviços é a redução
do valor do funeral social do edital de concessão, que passa de R$766 para R$566. Os consórcios vencedores
serão responsáveis pela administração, gestão, exploração e revitalização dos cemitérios, bem como a criação
de 3 novos crematórios para a cidade. Em uma das audiências públicas realizadas na assembleia legislativa do
estado de São Paulo no ano de 2023, discutiu-se a privatização dos serviços funerários, sobretudo a sua
piora, com denúncias de extorsão e assédio sofridos pelos servidores/ funcionários a partir da nova gestão.
Com a concessão da administração, os antigos funcionários, antes empregados pelo serviço funerário
municipal, foram realocados, e tiveram suas funções reorganizadas dentro das novas gestões. Por se tratarem
de concessões recentes, foi possível perceber algumas mudanças em comparação com os cemitérios antes das
concessões. A partir das idas a campo realizadas no âmbito de pesquisas desenvolvidas pela pesquisa
Cemitério também é cidade: uma análise antropológica dos espaços cemiteriais urbanos realizada pelo
(Laboratório do núcleo de antropologia urbana da USP) foi possível refletir sobre algumas destas questões,
em uma tentativa de compreender de que modo essas concessões rebatem nas práticas dos servidores. Se entre
eles ocorreu alguma mudança na forma como encaram os sepultamentos, os velórios e os cuidados com o
cemitério, e a convivência com os frequentadores. Ou de modo mais agudo se houve alguma mudança na percepção
da morte por parte destes servidores. Este trabalho tem como objetivo expor as questões observadas em
relação à posição dos servidores nos cemitérios concessionados, sobre como encaram a administração privada
dos cemitérios.