ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 007: Antropologia Biológica e interfaces biologia e cultura: história, pesquisas atuais e perspectivas futuras
Medindo lacunas: os debates recentes sobre a origem e evolução da linguagem e a sobrevida da tensão natureza/cultura em Antropologia sociocultural
Nas últimas três décadas, pelo menos, o problema da origem e evolução da linguagem, outrora tomado com certa desconfiança apriorística, constituiu objeto de crescente interesse em diferentes domínios das Ciências Naturais e das Ciências Humanas, engendrando numerosos esforços de pesquisa multidisciplinar e impactando diferentes áreas de conhecimento. Seja por meio da intensificação de estudos de campo em primatologia, pelo desenvolvimento de modelos computacionais e de experimentos fundados em teorias dos jogos ou pelo aparecimento de novas vertentes analíticas em ecologia linguística, por um lado, seja, por outro, pela emergência de novos conjuntos de evidências relacionadas à evolução do comportamento linguístico em campos como a genética, a arqueogenética e a neurolinguística, dentre outras inovações teórico-metodológicas, a transformação do estatuto epistêmico dessa questão tem suscitado incontáveis debates, polêmicas e mesmo a revisão de modelos interpretativos gerais em Biologia Evolutiva. De forma aparentemente paradoxal, contudo, embora a reflexão atual sobre a evolução da linguagem tenha implicações significativas sobre a forma com que, historicamente, a Antropologia definiu em termos conceituais grandes problemas como a natureza própria e típica das culturas humanas e/ou do simbolismo, esse novo afluxo de pesquisas sobre o tema em tela parece não gerar uma reação proporcional no campo da Antropologia sociocultural. Se grandes modelos teóricos em Linguística tiveram, ao longo do século XX, uma força geradora que desencadeou o aparecimento de diferentes correntes de pensamento em Antropologia sociocultural (desde o relativismo boasiano ao estruturalismo e ao interpretativismo), a investigação recente sobre a origem e evolução da exaptação linguística parece não conseguir ter o mesmo sucesso em ingressar na agenda daquele campo, independentemente de seus diferentes contextos regionais, nacionais ou institucionais, malgrado os empreendimentos de alguns pesquisadores individuais e/ou grupos pontualmente situados. Neste trabalho, pretende-se desenvolver uma revisão crítica e sistemática suscinta de pesquisas multidisciplinares sobre a origem e evolução da linguagem, oferecendo uma espécie de estado da arte sobre a questão, bem como, para além da mera alegação de "biofobia" por parte das Ciências Sociais e/ou da controvérsia em torno ao "evolucionismo", discutir as potenciais razões dessa lacuna de diálogo e integração efetiva ao debate por parte de uma maioria expressiva do campo da Antropologia sociocultural.