Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 067: A Pesquisa Antropológica e os Estudos sobre violência em meio escolar: Críticas e Contribuições
Quem não é visto não é lembrado: correlações entre o trabalho prisional e circulação na prisão em uma
perspectiva comparada entre Brasil e França
Partindo de uma pesquisa etnográfica realizada em unidades prisionais no Rio de Janeiro, em Paris e em
Marseille, este trabalho busca descrever e compreender as relações de trabalho entre mulheres privadas de
liberdade e a administração prisional pensadas a partir da circulação no espaço da prisão, em uma
perspectiva comparada. Essa correlação advém da observação de que, ao entrarem na prisão, as mulheres com as
quais estabeleci interlocução durante o trabalho de campo realizado entre 2019 e 2021, buscam dar sentido à
punição que lhes foi atribuída, e, a partir disso, fazerem a pena andar com o foco no término do cumprimento
dessa etapa. Dentro desse contexto, por mais que existam diferentes maneiras de buscar encurtar o tempo da
pena, o tempo atribuído pelo(a) juiz(a) é quase soberano e torna-se preciso, portanto, ocupá-lo para fazer
com que passe mais rápido, o que implica, também, ocupar o espaço da prisão, sobretudo por meio das
atividades que são oferecidas com maior ou menor frequência em cada unidade prisional sendo a principal
delas o trabalho prisional. Na minha pesquisa de campo, observei que, por mais que o trabalho prisional seja
visto como uma das principais maneiras de ocupar o tempo na cadeia tanto no Brasil quanto na França,
circular pela prisão aqui e lá possui implicações distintas para as mulheres que exercem funções laborais.
Se aqui não trabalhar não parece ser visto como um problema a ser administrado pela direção na unidade e,
nesse sentido, quem não é visto não é lembrado; na França, ficar muito tempo dentro da cela pode ser um
sinal de que a pessoa é suicida, exigindo que a direção adote protocolos para evitar a morte dessas
pessoas. Nessa perspectiva, é que proponho correlacionar as relações de trabalho na prisão e a circulação no
espaço da prisão em uma perspectiva comparada, destacando os sentidos locais da punição, e observando
diferentes maneiras de administração institucional de conflitos a partir de unidades de privação de
liberdade.