Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 048: Ensinar e aprender Antropologia
Recuperando Hélène Clastres: pensando gênero, clássicos, linhagens e etnologia brasileira.
Terra sem mal: profetismo tupi-guarani (1975), um ensaio sobre um complexo religioso-migratório feito pela etnóloga francesa Hélène Clastres, está às vésperas de completar 50 anos desde sua primeira publicação. Fruto da junção da experiência etnográfica da autora, dos trabalhos anteriores sobre religião Tupi-Guarani e dos relatos dos primeiros viajantes e missionários que tiveram contato com os Tupi-Guranis antigos, o texto ganhou importância numa certa etnologia feita no Brasil na década de 80, dando também os devidos créditos ao pensamento da autora e a sua originalidade ao lançar hipóteses propriamente etnológicas sobre as noções Guarani de ser humano, natureza e sociedade. Porém, logo a autora não foi mais escrita. Ao pesquisar a recepção da obra etnológica de Hélène Clastres no Brasil, abriu-se um número de questões. Por que essa etnóloga foi reconhecida em uma época e logo depois esquecida? Quando e onde sua obra pode ser considerada um clássico da etnologia no Brasil? Seu esquecimento está relacionado ao gênero ou há outros aspectos na sua obra que podem ter contribuído para tal? Qual linhagem disciplinar da autora? A partir da sua obra, entraremos um pouco daquilo que chamam de uma cultura antropológica, tentando entender mecanismos de classificação que priorizam metodologias, teorias e estilos. Filosofa de formação, além dos elogios à sua originalidade, a obra da autora foi acusada por uma tradição de estudiosos do Guarani por conter teses muito filosóficas. Na década de 80, muitos etnólogos americanistas foram acusados de idealistas. Além disso, o livro de H. Clastres se trata de um ensaio pouco fundamentado etnograficamente. O estudo do contexto da antropologia da época é importante para entender por que uma aproximação com a Filosofia e do estilo ensaístico francês ala Marcel Mauss podem ter prejudicado a usabilidade das teses da autora. Para isso, fazemos uma discussão em torno do ethnology brazilian style, ou, de forma crítica, da construção de uma ideologia brasileira da etnologia, para entender o lugar que ocupa Hélène Clastres nas escolas antropológicas brasileiras. Estes são temas caros para o estudo do ensino e aprendizagem na antropologia conquanto operam na seleção do conhecimento antropológico que formará novos especialistas e na reprodução de uma comunidade, que, como qualquer outra, tem seus critérios de valoração e hierarquia. Ao entrar no contexto da etnologia no Brasil, também mostra um momento da história da disciplina e das suas escolas teóricas-metodológicas.