Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 069: Maternidades Violadas: desigualdades, violências e demandas por justiça e direitos
Mãe Negra: Estamos falando, estamos gritando...Estão nos silenciando.
Ao me deparar com o tema que me direcionou, e continua me direcionando a investigação da minha pesquisa
de doutorado, fui levada o que para mim é o mais gritante do bairro em que moro desde de quando nasci, me
encontrei com a minha própria vivência que se mescla às experiências das mães negras que perdem filhos por
mortes violenta, e que me levaram a pensar na quebra do silêncio que gira em torno dessas mortes e
consequentemente da dor, e dos traumas em continuidade que essas mortes geram.
São dores silenciadas, pois existe uma resistência social em não chorar a morte de um filho que morre por
armas de fogo, como é o caso das mortes de muitos jovens negros em comunidades, por elas estarem geralmente
associadas ao envolvimento com o crime. Os dados apresentados no Atlas da Violência 2020, evidenciam que as
mulheres negras representaram 68% do total das mulheres assassinadas no Brasil e os homens negros
representaram 75,7% das vítimas de homicídios. Essas informações mostram que em todos os Estados brasileiros
um negro tem mais chances de ser morto que um não negro (ATLAS DA VIOLÊNCIA, 2020). A pesquisa MÃE NEGRA:
Fala, Grito, Silencio e Sussurro, visa analisar, interpretar as dinâmicas (intervenções e praxes) das Mães
Negras nas suas diversas interconexões entre Raça, Gênero, Classe e os processos de subalternização no
contexto de suas práticas sociais diversa em Salvador no território do Ogunjá, as relações sociais que
atravessam a vida destas mulheres em suas encruzilhadas, surgem algumas questões: Em que dimensão a mãe
negra é atravessada pelas representações depreciativas com relação a construção de uma imagem de condição
genérica do negro nas redes simbólicas da formação social assim constituída na cidade; Quais categorias de
significado em termos de representação, identidade e ação são úteis para o estudo de gênero, raça e classe
em uma perspectiva interseccional na vida cotidiana da Mãe negra; e Como a análise de discursos produzidos
por estas mulheres em suas vivências cotidianas podem exemplificar as questões elencadas. Estamos após 135
anos da abolição oficial da escravatura, e a minha reflexão acerca da minha pesquisa é como transformar um
mundo dominado por um pensamento branco-ocidental que nos querem preso ou morto, e como minhas
interlocutoras pode escapar do destino colonial, como escapar do silenciamento programático, como escapar da
exposição em praça pública onde o Pelourinho hoje é virtual. Quais os contornos da formação sócio histórica
brasileira nos permitem compreender o entrelaçamento entre raça, gênero e classe, e quais os caminhos para a
construção de um projeto de ruptura e emancipação popular construído de baixo para cima, sendo a população
negra protagonista!