Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 011: Antropologia da técnica
O Caso do Sururu Branco: Controvérsias sociotécnicas e relações ecológicas entre pescadores e cientistas
Durante o verão de 2022, uma controvérsia se espraiou entre os pescadores artesanais de Alagoas. Em um período do ano no qual a pesca do sururu (Mytella falcata) se encontraria em alta, devido a maior reprodução desta espécie de mexilhão nos períodos de estiagem, pescadores e marisqueiras notaram que algo estava diferente. Ao cozer e peneirar as conchas extraídas da lagoa Mundaú, a população local notou que a carne de coloração amarelada, que deveria ser destinada a comercialização, não mais era encontrada nos sururus pescados. Buscando respostas para o que haveria acontecido, os pescadores acionaram o Ministério Público Federal, denunciando que a espécie pescada havia sofrido uma "mutação", devido a extração de salgema realizada por uma mineradora na região. Por sua vez, o MPF convocou cientistas da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), para que emitissem um laudo técnico que comprovasse a denuncia levantada pelos pescadores. Contudo, as análise feitas em laboratório apontaram para um resultado diferente, levando a conclusão de que a empresa não seria responsável por uma mutação no sururu pescado na lagoa, tratando-se de uma "espécie invasora". Através de algumas notas etnográficas acerca da cadeia operatória (Coupaye, 2017) da pesca do sururu, assim como da análise de documentos científicos e participação em audiências públicas, esta apresentação busca na comparação entre as diferentes operações técnicas dos cientistas e pescadores, compreender o porquê da divergência entre os diferentes atores, assim como apontar algumas considerações sobre as formas como estes diferentes sistemas sociotécnicos interagiram frente a controvérsia.
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