Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 026: Antropologia, memória e eventos críticos
Colonialidade & Esquecimento: interlocuções entre a Ditadura, os Povos Indígenas e o Relatório Figueiredo
O propósito deste trabalho é abordar o esquecimento como uma política estatal diante de graves violações de Direitos Humanos. A pesquisa focaliza na análise etnográfica das dez mil páginas do relatório conclusivo da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), instituída em 1967, e presidida pelo procurador Jader de Figueiredo Correia. Esta CPI foi estabelecida com o intuito de investigar irregularidades administrativas no Serviço de Proteção aos Índios (SPI), órgão encarregado das políticas indigenistas naquela época. Denominado como Relatório Figueiredo, esse documento, além de apontar indícios de desvios nas finanças públicas, revela inúmeros casos de violações de Direitos Humanos contra comunidades indígenas, tais como torturas, estupros, execuções sumárias, entre outras violações. A pesquisa baseou-se na análise dos diversos tipos de documentos que compõem o relatório, os quais foram organizados e examinados de forma interdisciplinar. Este estudo proporciona uma análise abrangente das interações entre o Estado e os Povos Indígenas, os quais foram considerados como obstáculos ao progresso na nação e relegados a uma posição secundária na narrativa da História Oficial, além de suas vidas serem menosprezadas e afetadas pela colonialidade. Discute-se, ainda, o esquecimento por mais de quarenta anos deste documento considerado, na época de sua elaboração, como o "escândalo do século", que registra como o governo militar percebia os corpos indígenas e gerenciava seus territórios, bem como as políticas de memória que posteriormente contribuíram para o seu ressurgimento, especialmente no contexto da Comissão Nacional da Verdade.
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