Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 019: Antropologia dos/nos Gerais
Andanças na beira do rio e a poética das águas: Cavalos de Santo da História e a cosmopolítica vazanteira no sertão norte-mineiro.
A racionalidade capitalista ao se manifestar sobre o meio ambiente interfere nas condições de (re)produção dos povos e comunidades tradicionais, haja visto que a degradação da natureza, da sua biodiversidade, e dos ecossistemas provocam a modificação das práticas de manejo e gestão dos recursos naturais, forçando a reorientação de estratégias que resultam nas constantes mobilizações e reivindicações por autonomia destas comunidades. No Brasil, neste exato instante, povos e comunidades tradicionais e povos indígenas têm seus territórios e modos de vida ameaçados pela atuação do Estado, por corporações transnacionais, pelas monoculturas do agronegócio e por megaempreendimentos como a mineração e o hidronegócio. Entre estas comunidades violentadas estão os vazanteiros da Ilha de Pau de Légua, quilombolas ribeirinhos, do extremo norte de Minas Gerais, que tem o seu território ás margens do Rio São Francisco e sobreposto pelo Parque Estadual da Mata Seca, uma das condicionantes ambientais da segunda etapa de expansão do projeto Jaíba, o segundo maior perímetro irrigado em área contínua do mundo. A luta por liberdade, dignidade e manutenção dos seus território e modos de vida, são as tônicas da conflituosa relação destas comunidades com o Estado brasileiro. Há séculos, se instalou em seus corpos e territórios um campo de batalha racial, que, como acontecimento, nos permite apreender a partir das suas lutas, a criação no aqui e agora do contraponto radical a violência racista promovida pela colonização. Partindo da compreensão de que o território vazanteiro é resultado de inúmeros agenciamentos, fruto da fratura colonial, conceitos-chave serão mobilizados para a coesão desta comunicação como territorialidade, contra-colonização, cosmopolítica, ecosofia, cavalos de santo e catástrofes.