ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 034: Casas, cozinhas, quintais e suas agências em coletivos quilombolas, sertanejos, pescadores, indígenas e camponeses
CUIDAR COM PLANTAS: quintais de mulheres benzedeiras na Serra dos Paus Dóias – Exu/PE.
Objetiva-se investigar as práticas de cuidado cotidiano com plantas a partir dos quintais de mulheres benzedeiras na Serra dos Paus Dóias, município de Exu (PE). Entendendo o quintal como um espaço de interação entre humanos e agências não humanas que se conectam dinamicamente na produção do cuidado, e o cuidar como uma tecnologia de vida com implicações materiais. Através de dados etnográficos a pesquisa é um esforço de estabelecer conexões entre os dados e as teorias e epistemologias feministas, especialmente no que diz respeito à centralidade do cuidado com intuito de descrever as práticas de cuidado com plantas no espaço dos quintais. Abordar as práticas de cuidado que benzedeiras desenvolvem em seus quintais, buscando a relação com a agência não humana das plantas. A arquitetura do cuidado inclui o quintal e a cozinha. Como bem salienta Nego Bispo, “qual é a parte mais necessária de uma casa no quilombo? É o quintal! Na verdade, é a cozinha e o quintal (Santos, 2023). E na Serra dos Paus Dóias não é diferente. É no quintal onde acontecem as experimentações de cura, as práticas de cuidado cotidianas, é onde as benzedeiras praticam o seu saber fazer, onde as crianças aprendem a fazer tudo. É onde elas buscam lenha para cozinhar a comida da família, plantam o feijão, a macaxeira, o milho, trocam mudas e experiências. O mundo das benzedeiras é prenhe de materialidades, energias e manifestações sobrenaturais, que exigem cuidado. Os quintais das benzedeiras desempenham um papel relevante em seus modos de cuidar através da cura. Lugar prenhe da cultura feminina e de empirismo. Essa teia de relacionalidade indica que as práticas de cuidado das benzedeiras incluem outros que humanos. Agências não humana que podem absorver o mau-olhado, por exemplo, ou uma abelha que pode anunciar um mau-presságio. A resistência desses ritos e modos de cuidar falam de uma contracolonialidade que não se deixa “domesticar e que não se afasta do mundo sensível. E falam de modos de se relacionar que envolvem não apenas um “trabalho de cuidado”, mas também afetos e tensões. Esta pesquisa é um esforço de pensar o cuidado para além das dicotomias trabalho x afeto compreendendo as complexidades que se dão no cotidiano através de suas contradições sem, entretanto, reforçar o lugar da “mulher que cuida”. O saber fazer cotidiano das benzedeiras revela que o cuidado pode envolver situações nem sempre agradáveis como ter que lidar com “reclamações de entidades supranaturais, por exemplo, e absorver as dores físicas e emocionais do outro. Além do esforço físico para realizar um “trabalho de cuidado cotidiano que está por trás das práticas de cura como levar sol quente na cabeça enquanto trabalha a terra e cultiva seus “remédios do mato no quintal.