Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 023: Antropologia e saúde mental: sofrimento social e (micro)políticas emancipatórias
Seguir em luta ainda que contra novos vilões: considerações sobre a produção das violações de direitos humanos em comunidades terapêuticas como um problema público
O presente trabalho tem por objetivo apresentar e discorrer sobre a construção do tratamento ofertado por comunidades terapêuticas – e direcionado a pessoas que fazem uso abusivo de substâncias psicoativas – como um problema público. Tais considerações derivam da pesquisa etnográfica realizada durante o mestrado no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, no Museu Nacional, e que resultou na dissertação intitulada “A disputa do tempo e o tempo da disputa: reflexões etnográficas sobre a trajetória das comunidades terapêuticas e suas inflexões na Reforma Psiquiátrica Brasileira”. Além disso, figuram como reflexões bastante iniciais acerca dos próximos passos a serem trilhados na continuidade de minha formação durante os anos de doutorado. De acordo com as pesquisas desenvolvidas por Rui (2012), o crescimento de metodologias de trabalho direcionadas ao tratamento e à prevenção do uso de drogas tem provocado a intensificação da disputa por espaço político e legitimidade social entre entidades públicas e privadas. Diante desse cenário, busquei investigar as ações de governo (Souza Lima, 2012) em saúde mental, álcool e outras drogas no país a partir das disputas entre terapêuticas cotidianamente (re)formuladas como sendo distintas. De um lado, o paradigma da redução de danos e o atendimento centrado no território – tal como ofertado pelos Centros de Atenção Psicossocial. De outro, o modelo das comunidades terapêuticas baseado na abstenção completa ao uso de quaisquer substâncias, na espiritualidade e na laborterapia. Tendo em vista que as diferenciações entre ambos os modelos não estão dados por princípio e são cotidianamente construídas a partir do trabalho político e epistemológico desempenhado por diversos atores sociais, buscarei refletir como essas têm sido formalizadas em denúncias públicas às supostas violação de direitos humanos ocorridas em tais instituições terapêuticas. Isto é, na produção dessa problemática social em um problema público de dimensão “societal” (Gusfield, 1981) e que, enquanto tal, deve concernir a todos.
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