Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 055: Etnografias de processos de resistência de povos indígenas em Estados e governos de exceção
Marcha das Mulheres Indígenas em destaque: concepções e ações etnopolíticas femininas pelos direitos dos
povos indígenas no Brasil
Cada vez mais o tema "movimento de mulheres indígenas" vem conquistando interesses etnográficos pela sua
relevância analítica para os estudos que abordam a política indígena e política indigenista do Estado
brasileiro. Neste GT, propomos apresentar, a partir de pesquisa de Doutorado em Antropologia Social, nossas
reflexões sobre como a Marcha de Mulheres Indígenas se tornou um dos eventos políticos de maior destaque
entre os diversos movimentos sociais brasileiros. Nos últimos anos, milhares de mulheres etnicamente
diferenciadas têm ocupado Brasília com força reivindicativa em defesa dos direitos dos povos indígenas,
organizadas em delegações provenientes de vários estados do país.
A primeira edição da Marcha das Mulheres Indígenas foi realizada em Brasília entre 9 e 14 de agosto de 2019,
com o tema principal Território: nosso corpo, nosso espírito. Em 2021, foi realizada a segunda edição,
entre 07 e 10 de setembro, com a presença de mais de cinco mil mulheres indígenas, provenientes de cento e
setenta e duas etnias distintas. O tema da Marcha foi: Mulheres originárias: reflorestando mentes para a
cura da Terra. O contexto político da época era de tensão que prevalecia pelo Governo Federal brasileiro
estar posicionado declaradamente contra os direitos indígenas, tendo na Presidência da República Jair
Messias Bolsonaro. Durante a Marcha, no dia 07 de setembro, ocasião de evento comemorativo em Brasília pelo
Dia da Independência do Brasil, Brasília foi tomada por caminhoneiros mobilizados em apoio à política
presidencial, como demonstração de força política. Por conta da insegurança resultante das hostilidades
advindas de apoiadores do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro, o deslocamento de mobilização política das
mulheres indígenas em direção à Esplanada dos Ministérios, que estava marcada para acontecer no dia 8 de
setembro, teve que ser adiada. Somente dois dias depois do programado, ocorreu o deslocamento de
mobilização, com a trajetória de deslocamento também modificada - estava previsto para percorrer a
Esplanada, no entanto, os caminhoneiros já estavam ocupando o local e as mulheres indígenas tiveram que
negociar a autorização do Governo do Distrito para sua mobilização poder percorrer e, desta vez, em uma das
principais avenidas de Brasília - W3 Sul. Também em 2022 ocorreu a Caravana das Originárias, resultante da
primeira Marcha das Mulheres Indígenas, com finalidade de promover ações de fortalecimento, protagonismo,
acolhimento, reflexão da importância dos Biomas e territórios de todo o Brasil (ANMIGA, 2022). Em 2023,
entre os dias 10 (incluindo a chegada das delegações) e 13 de setembro, realizou-se em Brasília a terceira
Marcha das Mulheres Indígenas, com o tema Mulheres Biomas e Defesa da Biodiversidade pelas Raízes
Ancestrais.