Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 008: Antropologia da Arte
Arte e rituais de luto em contextos de violência: os trabalhos de denúncia e homenagem produzidos pelo coletivo Magdalenas por el Cauca – Colômbia
Este trabalho decorre das análises empreendidas em minha dissertação de mestrado (2018) que teve como objetivo central compreender a relação estabelecida entre arte e memória, em um contexto particular e historicamente delimitado, de violência sistemática. O estudo circunscreve-se sobre as três primeiras obras realizadas pelo coletivo colombiano Magdalenas por el Cauca, entre os anos de 2008 e 2013. A partir de entrevistas realizadas com a dupla de artistas Gabriel Posada e Yorladi Ruiz e da análise do registro documental e visual das obras, evidenciam-se vínculos com trabalhos de memória coletiva, empreendidos na Colômbia nas últimas décadas. Mobilizadas, principalmente, por organizações de familiares de vítimas, com apoio de organizações civis e governamentais, as obras estudadas inserem-se no contexto do chamado ‘pós-conflito’. Entende-se que há um conjunto de produções artísticas que foi sendo empreendido no país, cujo foco incidia sobre o trabalho com comunidades de vítimas como meio de visibilizar cenários de violação e sofrimento. Especificamente, o coletivo Magdalenas por el Cauca ao propor obras de intervenção efêmera no rio Cauca – lugar onde a marca da morte violenta está inscrita, formulam seus trabalhos como “intervenções rituais”, ao estabelecerem junto às mães e familiares meios de homenagem e denúncia. Ao aprofundar sobre a trajetória percorrida pelo coletivo e seus recursos artísticos, simbólicos e afetivos, encontramos a figura da mãe como o principal símbolo ativado. O primeiro trabalho do coletivo no rio Cauca, é definido pelos artistas como uma exposição-procissão, um evento ritual em que a memória das mães que perderam entes queridos emerge por meio de balsas que levam seus rostos desenhados em larga escala. Ao utilizarem o rio Cauca como local dessa intervenção ritualizada, os artistas operam com diversos sentidos a partir do reconhecimento da dor e da importância do luto na vida dos familiares que viram seus entes desaparecerem. O rio Cauca, que foi sistematicamente utilizado como ‘fossa comum’, também revelou, ao longo dos anos, vários corpos que haviam sido despejados em suas águas. Dessa forma, entende-se que o trabalho de homenagens nas suas águas é uma maneira de trazer luz a esses casos, ressignificando a memória do horror ali praticado, como um lugar de memória e testemunho. Também compõem as análises trabalhos subsequentes realizados pelo coletivo em colaboração com as mães do coletivo Madres de Trujillo, cidade do Valle del Cauca, onde ocorreu, ao longo de sete anos seguidos, um massacre contínuo. Nessas ações, as ações participativas propostas pelo Magdalenas por el Cauca são entendidas como empreendimentos ritualizados de luto e dignificação das vidas atingidas, um meio de tecer resistências contra a barbárie.