ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 031: Artes e crafts: composições, técnicas e trajetos criadores
Entre traços e riscados - um esboço dos modos de criar, desenhar e fazer sigilos mágicos
Como descrever o terreno mágico e material do Paganismo Contemporâneo? A partir de experiências de prática e produção de pesquisa junto ao Círculo Piaga na Vila Pagã, no Piauí, o seguinte trabalho coloca em cena os modos de criar e fazer uma religião pagã na contemporaneidade. Traçando a magia como mediadora da experiência de estar num mundo “infundido de espíritos” (Greenwood, 2016), seguirei, nessa escrita, os traços riscados dos sigilos mágicos desenhados por um sacerdote-bruxo piaga inspirado por almas, bruxas, espíritos e encantados. Enquanto imagens gráficas de seres outros-que-humanos – geralmente feitas a partir de representações pictóricas e/ou rúnicas, ou criadas junto a experiências mediúnicas –, os sigilos fazem indagar: o que um sigilo faz? Como se faz um sigilo? O que media e o que é mediado por sigilos mágicos? Como os gestos de desenhar, inscrever e traduzir nomes, símbolos e imagens emergem reciprocamente com os sigilos? Essas indagações – que povoam minha atual pesquisa no mestrado sobre as materialidades da experiência da magia num contexto pagão –, nos levam a prestar atenção ao processo de criação e feitura desses traços mágicos-rituais e às dimensões criativas e materiais que os trazem à existência junto às pessoas em cujas vidas eles estão envolvidos. Entrelaçando rastros biográficos-sociais e mágico-rituais, riscarei nessa escrita o devir das pessoas e o devir das “coisas”, me concentrando nos fluxos materiais pelos quais “coisas” surgem e continuam como organismos que crescem a partir do que fazem (Ingold; Hallam, 2014). Desde pedras, madeiras, troncos, chão e giz, os sigilos riscam entidades e energias que agem durante rituais, mas, que antes, foram criados e feitos em processos que envolvem experiências mediúnicas; ao mesmo tempo que são riscados através do corpo do sacerdote-bruxo que está inspirado, irradiado, canalizado e/ou incorporado por entidades – que escrevem-inscrevem e traduzem as imagens nos/dos sigilos como participantes ativos na experiência da magia. Como uma simpoiese (Haraway, 2016), a relacionalidade provocada pelo ato de criar e fazer sigilos pode indicar modos de visualizar como acontece a intimidade de uma religião pagã na contemporaneidade desde uma escala situada e específica – mas que também está enredada na paisagem religiosa do Paganismo Contemporâneo no Brasil a partir da produção de um mundo mágico e religioso localizado –, como é o caso da tradição do Paganismo Piaga no Piauí.