Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 045: Economias, políticas e territorialidades indígenas e negras: cenários de conflito, mudança social e identidade étnica
Diferenças comparadas: coletivos Kaingang, Nambiquara e os etnônimos.
Apresentamos de modo introdutório proposta de comparação etnológica dos modos de produção de diferença de coletivos/política entre os Kaingang (Jê meridional, região sul e sudeste do Brasil) e os Nambiquara (língua isolada, região oeste/noroeste de Mato Grosso e sul de Rondônia), a partir dos etnônimos. Se entre os Kaingang encontramos densa concentração demográfica por aldeia, distinção da língua limitada a cinco dialetos (WIESEMANN, 1971) e chefia política com amplo lastro populacional, entre os Nambiquara, atualmente, constam mais de 30 grupos que se diferenciam (COSTA, 2009), distribuídos em diversas aldeias com baixa densidade demográfica, bem como apresentando significativas variações linguísticas - três línguas distintas, com variação de 16 dialetos (TELLES, 2013). Há contrastes que se apresentam nestes traços amplos que nos levam a perguntar sobre os distintos modos de diferenciação implicados. O campo de debate entre os processos sociocosmológicos de modos de produção de diferença (FAUSTO, 2001), reconsiderando a contraposição dos Jê estritamente centrípetos e os Tupi centrífugos (GORDON, 2006), ampliam-se em diversidade de dinâmicas, seja entre os Tukano, Arauak, Yanomami e Pano, como observa Andrello (2016) analisando etnônimos, seja retomando a noção de dádiva e hierarquia em torno da política e socialidade no Alto Xingu. Deve-se ainda destacar o alargamento de espectro comparativo considerando aspectos históricos e historicidades subjacentes. Face aos processos históricos de expropriação e homogeneização territorial que os Kaingang (TOMMASINO, 1995) e Nambiquara (ARAÚJO, 2020) enfrentam os primeiros entre o sul/sudeste, os últimos entre centro-oeste/norte, do Brasil - há variações distintivas que se apresentam a partir dos etnônimos: se entre os Kaingang, entre os séculos XIX e XX há supressão dos etnônimos específicos como referencial distintivo de grupos (GOES, 2018), entre os Nambiquara ao longo do século XX, constata-se multiplicidade dos mesmos (PRICE, 1987). De qual modo compreender tais distintas modulações nos processos históricos? Para abordagem destes contrastes, além da análise das caracterizações estritas dos etnônimos, torna-se relevante contemplar entre os Kaingang e Nambiquara, respectivamente: os padrões das denominadas marcas (rá) nos artesanatos (GRAÇA, 2023); a distinção fúnebre de cavernas de espírito. Deste modo, ao lado da hipótese sobre o dualismo Jê/Kaingang situado para além de aspectos diametrais, referente aos Nambiquara segue-se o lastro da produção da diferença não reduzindo-a a um dualismo econômico sazonal mas contemplando plano cosmopolítico e territorial de multiplicidade de coletivos, possibilitando desdobrar o potencial da análise comparativa.