ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 008: Antropologia da Arte
O pornobomb em desenho: uma etnografia desenhada sobre uma pintura corporal encontrada na socialidade do graffiti
"Meu corpo, eu faço o que eu quiser", e ele jogou a tese "Ah vamos fazer um pornobomb?", essa é uma fala de uma das minhas interlocutoras sobre o pornobomb. O pornobomb é uma pintura corporal diretamente vinculada ao graffiti, majoritariamente, realizada por grafiteiros em corpos de mulheres. Após a realização da pintura são registradas imagens fotográficas que em sua maioria são postadas em redes sociais digitais. A estética dessa pintura se aproxima do que é feito nas ruas, os chamados bombs, tags e personas saem dos muros para serem inscritos nas peles e curvas dos copos. Como existe esse vínculo com a socialidade do graffiti e pixação, é possível encontrar a prática dessa pintura corporal em vários lugares (inclusive, fora do país), para além do campo proposto nesta pesquisa, porém com denominações diferentes. Em Belém, onde minha rede de interlocutoras foi criada e estabelecida, o termo mais comum é o pornobomb, razão que faz acreditar que este termo seja uma categoria da cena local. Em Porto Alegre, por exemplo, onde realizei o meu doutorado e parte de minha pesquisa de campo, esse tipo de pintura é conhecido por bodypaint. Neste percurso, levo em consideração a minha atuação enquanto artista-pesquisadora (ilustradora e grafiteira), desde o primeiro contato com esse tipo de pintura corporal, o que influenciou na produção de várias narrativas visuais incluindo desenhos e colagens digitais. Durante o período da pesquisa foram produzidas inúmeras imagens em desenhos que conduziram a investigação de acordo com as reflexões das interlocutoras e o entrelaçamento dos incômodos da pesquisadora, bem como, impulsionado pela experimentação de outras técnicas de desenho no decorrer da pesquisa. Diante do que foi encontrado em campo foi possível propor como reflexão dessa prática o conceito corpo-muro que abrange a complexidade que essas mulheres vivenciaram experienciando o pornobomb, que rompe com a hipótese inicial de uma unilateralidade no conjunto de decisões que se estabelecem antes e durante a pintura, o que nos apresenta uma tensão na disputa de poder de ambos. Nessa comunicação apresento o campo de pesquisa e a metodologia utilizada para desenvolver a minha tese de doutorado, discuto questões voltadas ao corpo, performances de um masculino e um feminino, consentimentos e o conceito corpo-muro. O desenho mobiliza a escrita e vice-versa, criando um movimento contínuo de camadas de imagens que surgem de acordo com as narrativas. Por fim, este trabalho pretende apresentar a minha pesquisa de doutorado com o intuito de ampliar o diálogo sobre a produção de desenhos nas pesquisas antropológicas e como os modos de desenhar acompanham o ritmo da pesquisa de campo.