Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 084: Patrimônios Culturais, Gênero e Diversidade Sexual: confluências e divergências
Mulheres, culturas populares e política pública
O Registro do Patrimônio Vivo (RPV) vem sendo instituído no âmbito de estados e municípios brasileiros
há duas décadas. Sua capilarização se deu inicialmente por regiões do nordeste do país e essa política tem
se destinado a mestras(es) e grupos do segmento da cultura popular e da cultura tradicional, conforme os
termos de seus editais.
Por meio da produção etnográfica acerca do RPV em Alagoas durante o mestrado, identifiquei uma série de
tensões e assimetrias. Entre essas, o número inferior de mulheres inscritas como patrimônio vivo em relação
ao de homens foi o que deteve mais a minha atenção e foi um fator determinante para a escrita da minha
dissertação. A falta de reconhecimento ou sua insipiência na esfera pública é inversamente proporcional a
liderança que essas mulheres exercem dentro de seus lares e grupos e está atrelada ao fato delas estarem
associadas ao lugar do cuidado.
A busca pelo Estado por autenticidade para a manutenção das tradições culturais locais está
predominantemente voltada à valorização de modalidades consideradas símbolos da cultura alagoana, o que
gera o reconhecimento majoritário de pessoas de determinadas grupos como é o caso do guerreiro, folguedo
considerado genuinamente alagoano. Enquanto isso desigualdades sociais, como a de gênero, seguem sem ser
observadas no âmbito da realização dessa política pública.
A falta de sistematização de dados sobre o RPV em Alagoas é reflexo da forma como se dá a relação do Estado
com o público alvo dessa política. Essa ausência implica a não observação das questões de raça, gênero e
classe que estão intrinsecamente presentes quando se discute cultura popular e faz com que o Estado incorra
na reprodução de desigualdades sociais ao implementar o RPV.
As trajetórias de vida dessas mulheres demonstram em sua maioria a falta de reconhecimento em diversas
outras atividades. Possuem pontos comuns que possibilitam discutir a partir de seus itinerários importantes
questões sociais. O que na etnografia se deu teórica e metodologicamente por meio da interseccionalidade.
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