ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 084: Patrimônios Culturais, Gênero e Diversidade Sexual: confluências e divergências
Mulheres, culturas populares e política pública
O Registro do Patrimônio Vivo (RPV) vem sendo instituído no âmbito de estados e municípios brasileiros há duas décadas. Sua capilarização se deu inicialmente por regiões do nordeste do país e essa política tem se destinado a mestras(es) e grupos do segmento da cultura popular e da cultura tradicional, conforme os termos de seus editais. Por meio da produção etnográfica acerca do RPV em Alagoas durante o mestrado, identifiquei uma série de tensões e assimetrias. Entre essas, o número inferior de mulheres inscritas como patrimônio vivo em relação ao de homens foi o que deteve mais a minha atenção e foi um fator determinante para a escrita da minha dissertação. A falta de reconhecimento ou sua insipiência na esfera pública é inversamente proporcional a liderança que essas mulheres exercem dentro de seus lares e grupos e está atrelada ao fato delas estarem associadas ao lugar do cuidado. A busca pelo Estado por autenticidade para a manutenção das tradições culturais locais está predominantemente voltada à valorização de modalidades consideradas símbolos da cultura alagoana”, o que gera o reconhecimento majoritário de pessoas de determinadas grupos como é o caso do guerreiro, folguedo considerado genuinamente alagoano. Enquanto isso desigualdades sociais, como a de gênero, seguem sem ser observadas no âmbito da realização dessa política pública. A falta de sistematização de dados sobre o RPV em Alagoas é reflexo da forma como se dá a relação do Estado com o público alvo dessa política. Essa ausência implica a não observação das questões de raça, gênero e classe que estão intrinsecamente presentes quando se discute cultura popular e faz com que o Estado incorra na reprodução de desigualdades sociais ao implementar o RPV. As trajetórias de vida dessas mulheres demonstram em sua maioria a falta de reconhecimento em diversas outras atividades. Possuem pontos comuns que possibilitam discutir a partir de seus itinerários importantes questões sociais. O que na etnografia se deu teórica e metodologicamente por meio da interseccionalidade.