Trabalho para Mesa Redonda
MR 26: Ecologias do Plantationceno: modos de habitar, resistir e preservar
Barras indomáveis e cetáceos ressurgentes: geontologias do capitalismo fóssil e ecologias ferais no
litoral sul do Brasil
A pesca com auxílio de botos é uma forma única de cooperação interespecífica praticada por pescadores
artesanais e comunidades de golfinhos nos estuários lagunares do Sul do Brasil. Embora o registro oral e
escrito indique sua ocorrência em vários pontos das costas catarinense e gaúcha, atualmente, a prática tem
se concentrado em dois locais específicos, as barras de Laguna (SC) e Tramandaí/Imbé (RS). Distantes cerca
de 250 km um do outro, ambos os canais foram objeto de intensas transformações antrópicas ao longo do último
século, das quais essa apresentação partirá para discutir os conceitos de plantationceno/capitaloceno,
geontologia e ecologias ferais. Mais precisamente, ela buscará explorar as relações entre a prevalência da
pesca cooperativa nestes canais, de um lado, e as infraestruturas erigidas para a fixação de seus leitos e
traçados, de outro, tendo em vista a circulação de combustíveis fósseis extraídos e consumidos em outros
lugares. Isto é, o escoamento do carvão do complexo carbonífero sul-catarinense, no caso de Laguna e do
vizinho porto de Imbituba, e o recebimento de petróleo em alto-mar, no caso de Tramandaí. Deste modo,
trabalharemos com a hipótese de que a pesca cooperativa é uma forma de ressurgência vital que se mantém à
margem de infraestruturas e ruínas legadas pelo capitalismo fóssil, assim como uma maneira simbiótica de
habitar paisagens moldadas por violentos processos de domesticação da inconstante geomorfologia costeira.
Abordaremos, também, o passado baleeiro de algumas das infraestruturas enfocadas, ressaltando a histórica
vinculação entre cetáceos e o litoral sul-brasileiro como fronteira do capitalismo extrativista.
© 2024 Anais da 34ª Reunião Brasileira de Antropologia - 34RBA
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