Mesas Redondas (MR)
MR 26: Ecologias do Plantationceno: modos de habitar, resistir e preservar
Coordenação:
Rodrigo Charafeddine Bulamah (UERJ)
Debatedor(a):
Alyne de Castro Costa (PUC-RIO)
Participantes:
Rosa Cavalcanti Ribas Vieira (UFRJ)
Guilherme Moura Fagundes (USP)
Caetano Kayuna Sordi Barbará Dias (UFSC)
Resumo:
Em diferentes partes do globo, a antropologia tem renovado seus modos de pensar questões ambientais e urgências climáticas. A partir de experiências históricas e contemporâneas pautadas não só em um ideal de natureza autocontida e apolítica, abrem-se novos caminhos analíticos e metodológicos. Trabalhando a partir de contextos marcados por processos de desigualdade e racialização, esta mesa redonda busca abordar a produtividade de conceitos como o de Plantationceno para pensar as urgências climáticas, as desigualdades de acesso à terra e os diferentes modos de habitar a Terra. Visamos discutir o Plantationceno à luz de perspectivas heterogêneas da antropologia contemporânea, notadamente os debates sobre capitalismo racial, legados da plantation, domesticação e feralização, feminismos negros e indígenas, ecologia decolonial e humanidades ambientais. Ao privilegiar descrições etnográficas e histórias particulares, nosso objetivo é refletir sobre modulações locais de compreensão e resposta aos dilemas e desafios ecológicos globais, problematizando o modo como conceitos são produzidos e empregados nas ciências humanas. A partir de pesquisas situadas, nosso objetivo é analisar temporalidades, histórias, espaços e escalas distintas, a fim de pensar eixos comparativos teóricos e metodológicos mais abrangentes. Nesse sentido, prestar atenção e reconceitualizar a ecologia a partir de outros termos, práticas e genealogias nos permite, de fato, criar novas alianças.
Trabalho para Mesa Redonda
Caetano Kayuna Sordi Barbará Dias (UFSC)
Resumo: A pesca com auxílio de botos é uma forma única de cooperação interespecífica praticada por pescadores
artesanais e comunidades de golfinhos nos estuários lagunares do Sul do Brasil. Embora o registro oral e
escrito indique sua ocorrência em vários pontos das costas catarinense e gaúcha, atualmente, a prática tem
se concentrado em dois locais específicos, as barras de Laguna (SC) e Tramandaí/Imbé (RS). Distantes cerca
de 250 km um do outro, ambos os canais foram objeto de intensas transformações antrópicas ao longo do último
século, das quais essa apresentação partirá para discutir os conceitos de plantationceno/capitaloceno,
geontologia e ecologias ferais. Mais precisamente, ela buscará explorar as relações entre a prevalência da
pesca cooperativa nestes canais, de um lado, e as infraestruturas erigidas para a fixação de seus leitos e
traçados, de outro, tendo em vista a circulação de combustíveis fósseis extraídos e consumidos em outros
lugares. Isto é, o escoamento do carvão do complexo carbonífero sul-catarinense, no caso de Laguna e do
vizinho porto de Imbituba, e o recebimento de petróleo em alto-mar, no caso de Tramandaí. Deste modo,
trabalharemos com a hipótese de que a pesca cooperativa é uma forma de ressurgência vital que se mantém à
margem de infraestruturas e ruínas legadas pelo capitalismo fóssil, assim como uma maneira simbiótica de
habitar paisagens moldadas por violentos processos de domesticação da inconstante geomorfologia costeira.
Abordaremos, também, o passado baleeiro de algumas das infraestruturas enfocadas, ressaltando a histórica
vinculação entre cetáceos e o litoral sul-brasileiro como fronteira do capitalismo extrativista.
Trabalho para Mesa Redonda
Rosa Cavalcanti Ribas Vieira (UFRJ), Rosa C R Vieira (Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade
de São Paulo)
Resumo: As análises multiespécies, os estudos sobre plantations e os debates académicos sobre o dendezeiro (oil
palm) têm considerado as plantas como agentes que participam de regimes de fazer viver, como também de fazer
morrer. As plantations são locais de controle, disciplina e dominação de plantas e pessoas, ao mesmo tempo
são irregulares, fragmentárias, onde emergem novas relações sociais e multiespécies. Com base em dados
etnográficos, esta apresentação discute o rearranjo das relações e afetos dos Yoómbe (floresta do Mayombe,
RDC) com o dendezeiro nativo, motivado pela presença de comerciantes portugueses e ações coloniais belgas na
África Central. Sugiro como, apesar destas intervenções, o Mayombe não se tornou uma fronteira escalável.
Nas ruínas de antigas plantações coloniais belgas, o dendezeiro consiste em um pilar simbólico, social e
econômico dos vilarejos. Nesse sentido, discuto como os espaços de resistência à plantation se constituem
através de alianças vegetais, propiciadas pelo consumo e compartilhamento de substâncias, que ligam humanos,
não humanos e ancestrais.
© 2024 Anais da 34ª Reunião Brasileira de Antropologia - 34RBA
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