Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 090: Religiões afro-ameríndias entre Norte e Nordeste do Brasil: territórios, trânsitos e práticas
As Sete Encruzilhadas de Obá no candomblé cearense: agência e protagonismo da pomba-gira e do orixá na
configuração do empoderamento feminino no candomblé ketu em Fortaleza (CE)
Francisca Maria da Justa Teixeira, uma professora de educação básica e umbandista na década de 1980 é
uma chave interpretativa indispensável à compreensão da história das religiões afro-cearenses. Depois de
longa convivência na umbanda, em Fortaleza e no Rio de Janeiro, é iniciada no candomblé ketu pelo saudoso
Pai Baiano (Waldomiro Costa Pinto), no Ilê Babá Ogum Megegê Axé Baru Lepé (Rio de Janeiro), quando recebeu o
nome iniciático de Obá Larim. Mãe Obassi, como posteriormente passou a ser conhecida, tornou-se uma
importante ialorixá no Ceará. Ao seu nome está relacionada a introdução do candomblé ketu naquele estado, já
que em 1990, quando foi inaugurado o Ilê Axé Oloiobá, as demais casas de candomblé existentes ali, e mais
especificamente em Fortaleza, eram de outras nações. Vítima de uma morte repentina, trágica e criminosa, na
madrugada do dia 24 pra 25 de 1996, sua liderança à frente da casa que criou durou apenas seis breves anos.
Todavia, a força e carisma desta sacerdotisa foram mais do que suficientes para assegurarem a sobrevivência
do seu legado para além da sua morte. A fonte da sua força, carisma e liderança em parte se atribui ao poder
de sua pomba-gira (Sete Encruzilhadas) e ao seu orixá Obá, forte símbolo de emancipação feminina e na época
ainda pouco conhecida no Ceará. Considerando, portanto, a liderança da Mãe Obassi e a agência das forças
sobrenaturais das quais emanava seu poder sacerdotal, neste trabalho serão apresentados alguns resultados
parciais obtidos na pesquisa intitulada Ilê Axé Oloiobá: memória e história do candomblé no Ceará, que vem
sendo desenvolvida desde outubro de 2022 junto à comunidade deste terreiro e das pessoas que a conheceram
pessoalmente e/ou mantiveram alguma forma de convivência com ela. A pesquisa tem abrangido entrevistas,
visita a terreiros, análise de documentos, incursões aos espaços institucionais por onde passou Mãe Obassi e
observação sistemática do cotidiano do Oloiobá. Trata-se de uma história fortemente marcada pelo trauma da
perda da fundadora, mas também permeada pela força de uma mulher que, por sua liderança, marcou de forma
indelével a história do candomblé no Ceará. No trabalho a ser apresentado veremos como, mesmo tendo sido
vítima da violência de gênero que há muito tempo permeia, também, o universo das religiões afro-brasileiras,
a memória e a história da Mãe Obassi interfere até os dias de hoje nas diferentes configurações da vida do
povo de terreiro no Estado do Ceará, da mesma forma que Dona Sete Encruzilhadas e o orixá Obá continuam
orientando a conduta do atual babalorixá da casa e de toda aquela comunidade-terreiro.