Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 016: Antropologia dos Povos Tradicionais Costeiros: Práticas Sociais, Disputas Identitárias e Conflitos
Por entre essas marés: Agenciamentos na prática da pesca de muruadas na Reserva Extrativista de Cururupu - Maranhão
O presente trabalho tem como objetivo apresentar a prática de pesca de muruada,
predominante na Costa Amazônica, abrangendo os Estados do Pará, Amapá e Maranhão. A
pesquisa está situada na Reserva Extrativista Marinha de Cururupu, na costa norte do
Maranhão, na região conhecida como reentrâncias maranhenses. A muruada é uma modalidade
de pesca que utiliza as forças das marés de preamar e baixamar para capturar camarões brancos
e sete-barbas, conhecidos localmente como camarão piticaia. Ao contrário das pescas de
camarão realizadas na costa sul, sudeste e parte do nordeste, que empregam o sistema de arrasto,
a muruada inverte a forma de captura do camarão, utilizando a força da maré.
Esta prática não se limita à inversão da forma de captura, mas vai além, evidenciando
de forma extrema as agências compartilhadas entre humanos e não humanos em um mesmo
plano, apresentando relações simétricas e assimétricas entre eles. A hipótese da pesquisa coloca
a técnica, enquanto artefato, como elemento mediador desses dois planos (humanos/não
humanos), estabelecendo relações simétricas/assimétricas por meio dos agenciamentos
(Despret, 2013).
Ao situar as muruadas nessa mediação, observou-se que elas estão inseridas em um
sistema anímico, sendo uma ontologia presente nas relações humanas e não humanas com
caráter social (Viveiros de Castro, 2004; Descola, 2012; 2016). Nesse contexto, conforme
descrito por Descola (1992, 1996, 2012), o animismo apresenta modos de relação com a
natureza, como troca, predação, reciprocidade, produção, proteção e transmissão. Assim, é
possível que haja um circuito de operação desses modos relacionais na pesca de muruada,
representando práticas sociais dos povos das marés.