Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 056: Etnografias do catolicismo: práticas, rituais, experiências e trajetórias em perspectiva
Corpos "fechados" e "preparados": da centralidade do batismo católico na sociabilidade pataxó
Na aldeia Boca da Mata da Terra Indígena Barra Velha do Monte Pascoal (Porto Seguro/BA) onde habitam os
Pataxó, a maioria dos moradores se consideram e se reconhecem católicos, de modo que o seu modelo de
sociabilidade articula um conjunto de elementos do catolicismo tal como elaborado e vivenciado localmente.
Dentre estes elementos, por exemplo, merece destaque o batismo católico, fundamento e ao mesmo tempo prática
que, de maneira bastante semelhante ao que se observa em outros contextos ameríndios nos quais o
cristianismo foi introduzido a partir de missões religiosas cristãs, é considerado fundamental no processo
de fabricação da pessoa humana. É por meio deste mecanismo que, segundo os Pataxó, uma "criatura pagã" é
apresentada a Deus, seu "criador", tornando-se pessoa humana propriamente dita. Mas, além disso, diz-se
também que é através do batismo que se dá a produção de um "corpo preparado" (isto é, "fechado" e
parcialmente protegido) para o trato com alguns seres "sobrenaturais" como os santos, os encantados, os
bichos e os espíritos dos mortos com os quais são estabelecidas relações de devoção, troca e
reciprocidade, mas também de perigo e predação, seja no cotidiano da vida desperta, durante os sonhos, ou em
contextos cerimoniais e festivos, como nas Festas de Santo realizadas anualmente na comunidade. Nesse
sentido, o objetivo desta comunicação é apresentar uma reflexão etnograficamente informada sobre a
centralidade do batismo católico na sociabilidade pataxó, tendo em vista a sua relevância não somente para o
que significa ser "gente verdadeiramente humana" ali, mas especialmente para a importância deste mecanismo
na composição de um corpo idealmente fechado e preparado para a lida com certas alteridades. Trata-se,
portanto, de pôr em foco os sentidos dados a este fundamento religioso prático que, de acordo com as formas
pataxó de viver e estar no mundo, produz condição corporal indispensável para que os humanos estabeleçam
relações cotidianas, oníricas e cerimoniais com os diversos seres sobrenaturais que povoam a sua cosmologia.