Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 028: Antropologias e Deficiência: etnografias disruptivas e perspectivas analíticas contemporâneas
Família, gênero e emoções: redefinições após o diagnóstico de autismo de uma criança
O autismo é caracterizado pelo saber biomédico como um transtorno ligado ao neurodesenvolvimento. Em um curto período histórico, desde o início do século XX, o transtorno do espectro autista (TEA) passou por classificações reclassificações nosológicas. A título de exemplificação, a versão mais atual do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM -5) excluiu a categoria síndrome de Asperger. Tal categoria, a grosso modo, foi aglutinada à classificação mais ampla do espectro autista. A forma como ordenamento jurídico brasileiro enxerga o TEA também passou por mudanças. Desde o advento da Lei N° 12.764 – Berenice Piana - de 2012, o autismo é tido como deficiência. Todavia, essas constantes reclassificações não surgiram num vácuo temporal e político. Há toda uma miríade de pessoas autistas e das famílias de crianças com autismo no impulsionar de tais mudanças. Existe a máxima de que toda pesquisa, em algum grau, esta relacionada com a subjetividade da pessoa que pesquisa. Este trabalho, com toda certeza, não é uma exceção. No ano 2022, uma de minhas sobrinhas foi diagnosticada com autismo. A partir de seu diagnóstico que comecei a procurar leituras acerca do TEA, bem como, estabelecer contato com profissionais da psicologia, com mães e outros familiares de crianças autistas. Foi no entrelaçar da literatura na ciência social e/ou etnográfica em conjunto das andanças com minha sobrinha a tiracolo que formulei o projeto de pesquisa intitulado “Os filhos que queremos: família, relações de gênero e emoções entre mulheres com crianças diagnosticadas com autismo”. Nesta comunicação oral, o objetivo e descrever e analisar três cenas das incursões exploratórias realizadas. A primeira cena é referente ao estranhamento com minha sobrinha, bem como, os desdobramentos iniciais pós diagnóstico de autismo. Já na segunda, serão narrados os contatos iniciais que tive com mães de crianças autistas próximas a mim. A terceira, por sua vez, tem como palco as salas de espera nos consultórios médicos e psicológicos do itinerário terapêutico da minha sobrinha. A partir destas três cenas, apresentarei quais os primeiros elementos, a partir de minha experiência e da literatura sobre autismo na antropologia, que apontam a importância de se olhar para a redefinição dos arranjos familiares e das relações de gênero após o diagnóstico de autismo em uma criança.