Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 057: Etnografias em contextos de violência, criminalização e encarceramento
Cuidado entre muros: os fazeres de mães, filhos e trancas no estado de São Paulo
Esta proposta de paper faz parte de uma pesquisa de doutorado em curso no departamento de sociologia da
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP - Brasil). A pesquisa enfoca a reprodução social da instituição
prisional e dos encarcerados no estado de São Paulo durante o período compreendido como da formação do
encarceramento em massa, isto é, a partir da década de 1990 e mais especificamente após o Massacre do
Carandiru em 1992. Tendo como marco a Teoria da Reprodução Social, a pesquisa é realizada por meio de uma
etnografia com familiares de presos, além de pesquisa em arquivo e análise de documentos.
Este paper propõe um enfoque nas complexas relações sociais entre algumas mães e seus filhos que, juntos,
puxam cadeia no estado de São Paulo (Brasil), para que os segundos encontrem formas de sobreviver à
experiência de estar encarcerado. Discorremos sobre as formas pelas quais a presença e os atos de cuidado
das mães interferem no governo da vida e da morte nas prisões, tensionando relações de violência com agentes
penitenciários, diretores de presídios, outros presos e também de outros familiares envolvidos no cotidiano
prisional. Entendemos que a descrição etnográfica sobre os contextos prisionais é enriquecida pelo enfoque
sobre o cuidado e o trabalho reprodutivo realizado principalmente pelas famílias, mas também pelos próprios
encarcerados uns em relação aos outros. De forma que a prisão não seja descrita de forma estática como uma
instituição de privação e violência, mas que sejam evidenciadas as relações afetivas e econômicas que
permitem a reprodução e a expansão do cárcere na complexidade que permeia as vidas dos presos.
O trabalho pretende contribuir para os debates que enfocam o deslocamento e a relevância do trabalho de
cuidado realizado fora dos limites do ambiente doméstico. Por fim, desejamos demonstrar os diferentes
circuitos de trabalho reprodutivo realizado pelas mães como ilustração de diferentes formas pelas quais a
prisão afeta a vida urbana, em especial nas dimensões econômicas, afetivas e políticas entre mães e filhos
das periferias e prisões paulistas.
© 2024 Anais da 34ª Reunião Brasileira de Antropologia - 34RBA
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