ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 026: Antropologia, memória e eventos críticos
"Nossa Casa não foi organizada para dar aula": Memórias das Professoras e dos Professores da Educação Básica na Amazônia Paraense durante a pandemia do covid-19.
Este trabalho faz parte de minha pesquisa de mestrado, que caminha para fase conclusiva e tem como objetivo geral compreender os efeitos sociais, profissionais e emocionais dos arranjos políticos emergenciais praticados pelo Governo do Estado do Pará na educação pública estadual durante a pandemia da COVID-19, a partir da experiência de professoras/es da Rede Pública Estadual de Ensino no Município de Ananindeua, na região metropolitana de Belém. Metodologicamente, esta pesquisa foi produzida a partir de observações de campo, rodas de conversa e entrevistas com professoras/es em 4 unidades de ensino no período de janeiro a fevereiro de 2022, em um momento de retorno às atividades presenciais após os 10 meses de suspensão das aulas e 6 meses de ensino remoto em um contexto de desigualdade digital. Os dados aqui apresentados referem-se a relatos e memórias das/os profissionais da educação sobre a experiência neste evento crítico e descrições de situações observadas em campo que são somados às minhas próprias experiências enquanto docente de 2 destas instituições de ensino no período da pandemia. Como resultados, pude reviver minhas memórias e identificar similaridades e diferenças na maneira em que cada profissional encontrou para se adaptar às exigências do governo do Estado do Pará, ante ao deslocamento da escola para o meio virtual, seja na relação entre a secretaria de educação e as professoras e os professores, seja na relação entre professoras e/ ou professores com os estudantes e/ou seus familiares, mediadas pelas tecnologias de informação e comunicação, bem como a vivência desses profissionais da sobreposição de múltiplos trabalhos, sendo todos realizados a partir de seus locais de moradia. Discorrer sobre a minha experiência e de minhas interlocutoras e interlocutores sobre nossas vivências na pandemia reavivou memórias de sofrimento, características daquele ambiente apavorante que predominou nos primeiros anos da Pandemia, principalmente quando ainda não tínhamos acesso a vacina. Pretendo demonstrar como que a memória de professoras/es da educação básica revela violências de Estado e de gênero pré-existentes em nossa sociedade, mas que foram aguçadas durante a Pandemia do Coronavírus. Inspirada em Veena Das, abordo a Pandemia como evento crítico que provocou profundas mudanças no ordinário e no cotidiano, que reverberaram no aprofundamento da crise da educação e na feminização da precarização do trabalho docente, bem como na feminização do trabalho de cuidados. Entendo que ouvir, falar e escrever sobre a experiência das professoras/es da educação básica na Amazônia Paraense contribui para tirar do silenciamento e da invisibilidade os conflitos vividos durante a pandemia, mas que seguem presentes no cotidiano da sociedade.