Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 034: Casas, cozinhas, quintais e suas agências em coletivos quilombolas, sertanejos, pescadores, indígenas e camponeses
Mexidas em quintas, brotamento das ancestralidades: descobertas de ossadas, urnas funerárias e outros vestígios na Comunidade Quilombola Pambú-Araçá (Serra do Ramalho/BA)
Em decorrência de um projeto de extensão executado pelo Instituto Federal Baiano (campus Bom Jesus da Lapa, BA), pretendemos compartilhar alguns elementos de nossa investigação antropológica na Comunidade Quilombola Pambú-Araçá, localizada às margens do Rio São Francisco no município de Serra do Ramalho, oeste baiano. A partir de encontros formativos com professores e lideranças da comunidade, foi possível identificar uma série de elementos relacionados à construção da memória local, ganhando destaque os vestígios arqueológicos. Tratados por alguns membros da comunidade como artifício que confere inegável ocupação tradicional do território, passaram a estender aos quintais dinâmicas imprevistas. As recentes mexidas nos terreiros são acompanhadas por cuidados no bater da enxada na terra e zelo no tratamento das ossadas, urnas funerárias, pontas de flecha encontradas em hortas, brincadeiras e instalação de cisternas na faixa dos quintais que margeiam o rio. Para além de um espaço de cultivo de plantas alimentícias, medicinais e ornamentais, os quintais passaram a ser lugares de evidência da ocupação ancestral, que se manifesta pelo seu brotamento, uma espécie de agência continuada no decorrer do processo de regularização fundiária e em meio aos conflitos contemporâneos enfrentados pelos moradores com a chegada de novos atores interessados em ocupar o território. Isso, somado a um esforço de construção da memória coletiva e o arrebatamento da amnésia como doença que atinge com frequência os mais velhos, nos traz interessantes dados etnográficos para compreender os processos de territorialização ocorridos ao longo das últimas décadas na comunidade. Em sua forma, conteúdo e acionamento, os relatos quilombolas sobre os quintais nos informam sobre as dinâmicas de habitação local, as relações de parentesco e as recentes formas de gestão do território, imbricadas no processo de constituição identitária da comunidade. Em síntese, pretendemos refletir sobre as contribuições de nosso projeto no fortalecimento identitário da comunidade, dando especial ênfase nos quintais como espaços de brotamento da ancestralidade.
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