ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 027: Antropologias da Paisagem: Conhecimentos, Relações e Políticas Multiespécie
Criar uma terra habitável: histórias de processo (e não de progresso)
Esta comunicação apresenta recortes de minha pesquisa etnográfica conduzida durante o mestrado no Programa de Pós Graduação em Ciências Sociais da UFSM. Um dos objetivos centrais da pesquisa foi observar e analisar como as práticas de cuidado moldam a formação de refúgios, influenciando na (re)configuração da habitabilidade multiespécies. O olhar desta pesquisa concentrou-se na história de duas famílias de permacultores e suas espécies companheiras, observando sua interação com a paisagem circunscrita no que hoje é a Estação de Permacultura Jerivá. Ao longo de três anos, por meio de técnicas de cuidado que provocaram perturbações lentas, muitas vezes orientadas pelas noções de design da permacultura, foi surgindo uma mancha de habitabilidade em meio a uma paisagem arruinada pela lógica da plantation. A partir de práticas de cuidado com o solo, essas histórias costuradas pela “agulha da permacultura” mostram a importância da conexão com o processo e a indeterminação dos encontros na criação de refúgio, lugares que possibilitam a renovação da diversidade biossocial após distúrbios significativos. Estudar refúgios em tempos urgentes nos oferece não apenas referências de projetos de compor-mundo habitável; também nos ensina que criar refúgio não significa necessariamente se livrar do fracasso, ou do “colapso”, como alvitrou um dos permacultores da Estação. Por isso a esperança é “fragmentada”, estamos cercados de incertezas, porém, mais do que nunca, devemos continuar respondendo ao problema.