ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 011: Antropologia da técnica
Rede de Corais: um exame das escolhas técnicas na restauração de recifes de corais no Caribe mexicano
Três categorias de restauração de recifes de corais existentes no mundo vêm, há mais de 15 anos, sendo desenvolvidas e implementadas no Parque Nacional Arrecifes de Puerto Morelos, localizado no Caribe mexicano, e foram inseridas, em 2020, em um programa do governo mexicano de adaptação às mudanças climáticas: propagação sexuada, propagação assexuada e aprimoramento do substrato recifal. No interior de cada uma destas categorias, circulam globalmente diferentes possibilidades relativas aos objetos, processos e habilidades humanas para desenvolvimento e implantação das mesmas, configurando um campo marcado por “escolhas técnicas” (Lemonnier, 1993). Este trabalho parte de uma etnografia realizada no Parque, com uma abordagem comparativa de duas modalidades de restauração: a propagação sexuada, desenvolvida pelo Laboratório de Investigación Integral para la Conservación de Arrecifes (Coralium), vinculado à Universidad Nacional Autónoma de México, e a propagação assexuada, desenvolvida e implementada pela ONG Oceanus A.C. Enfocarei a adoção, pela equipe do Coralium, de uma rede de coleta de gametas de corais (que subsequentemente são fertilizados para cultivo de “bebês” de corais em incubadoras e aquário), que ganha destaque em relação a demais possibilidades de coleta de gametas: uma tenda subaquática, dois outros tipos distintos de redes e a coleta de gametas de colônias coralíneas cultivadas em aquários (ex situ). A referência à confeccção da rede (hacer rede) como um processo “mágico” pela líder do Laboratório, num curso de capacitação, lançou a pesquisa para o diálogo com as abordagens antropológicas acerca da relação entre técnica, magia e ciência, como parte dos elementos a serem analisados. Num contexto ainda incipiente de análise para a escrita da tese, o objetivo deste trabalho é explorar os elementos envolvidos na “escolha técnica” desta rede, como ela se vincula à relação estabelecida pela líder do Laboratório com a magia, bem como a associação com as categorias “cuidado” e “redução do stress” ao longo do processo de coleta, cultivo, semeadura e possibilidades de sobrevivência dos “bebês” de corais semeados no mar. A etnografia permitiu compreender que a rede, mais do que a projeção de intencionalidades humanas, está envolvida em um conjunto de relações estreitas entre as propriedades vitais dos corais e as ações de demais organismos, habilidades humanas, astros, eventos meteorológicos, um conjunto de objetos e ferramentas, compondo uma uma sequência operacional que abarca a formação e história da paisagem e as dimensões políticas que a atravessam.