ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 036: Cidades: espaço construído e formas de habitar
Reflexões etnográficas sobre práticas e concepções de luta e resistência entre movimentos de moradia
Esta proposta busca trazer algumas reflexões etnográficas sobre práticas de resistência entre movimentos de luta por moradia na cidade de São Paulo. Embora muitos estudos sobre movimentos sociais tratem do tema, a categoria resistência muitas vezes acaba por refletir analiticamente uma polarização dicotômica e acirrada entre Estado e movimentos sociais de pontos de vista externos ao desses agentes sociais, a partir da qual pouco compreendemos sobre como essas coletividades são produzidas processual e situacionalmente e, mais importante, como tantos esforços de resistência são empreendidos e perseverados abarcando conjuntos tão heterogêneos e, por vezes, conflituosos de pessoas. Portanto, procuro discutir aqui como as famílias integrantes de um movimento de moradia específico, a Leste I, refletem sobre práticas de resistência principalmente a partir dos sentidos incutidos no termo luta”. Esse movimento social urbano articula famílias de baixa renda com o objetivo de obterem atendimento definitivo por programas habitacionais públicos na zona leste paulistana. Busca principalmente conquistar e obter terrenos para construção de moradias por meio de mutirões autogestionários com financiamento público e mão de obra das próprias famílias no controle e execução das obras. Em geral, são as dificuldades familiares e habitacionais anteriores, associadas ao sonho de se ter uma casa própria, espaço de autonomia, independência, liberdade, tranquilidade financeira e, no caso de famílias com filhos, possibilidades de oferta de melhores condições de vida aos filhos do que os pais tiveram, que levam à procura da Leste I. Em vez de se analisar os movimentos de moradia e a participação de suas famílias apenas a partir de conceitos como cidadania, direitos e democracia, que em geral sempre pressupõem normatividades, idealizações e avaliações sobre como os movimentos de moradia devem ser e agir, quais seus alcances e limites, a descrição etnográfica atenta aos processos concretos mostra como eles são mais dinâmicos e incapazes de serem apreendidos apenas por esses conceitos ou de serem facilmente classificáveis e tipologizados. As resistências dos movimentos de moradia são assim complexificadas ao considerarmos que são traduzidas em conflitos entre temporalidades distintas, nas quais o tempo subjetivo e variável de espera do atendimento, de participação das reuniões, de ocupações, manifestações e outras atividades combativas, são produzidos por e produzem reputações, atributos e moralidades da luta”, tidos como indispensáveis para a conquista da casa própria por meio do movimento. Para tanto, questões relativas a parentesco, gênero, corpo e produção de pessoas tendem a ser acionadas para legitimar e justificar um engajamento longo e que exige muita perseverança.