Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 020: Antropologia e Alimentação: interculturalidade, saberes críticos e desafios contemporâneos em contextos de luta por direitos
Do pilão ao rubacão: continuações e ressignificações gastronômicas do arroz vermelho no Brejo Paraibano
O arroz vermelho (Oryza sativa L.), o mais antigo cultivado no mundo e o primeiro introduzido no Brasil, chegou à Bahia no século 16 e expandiu-se para a capitania do Maranhão no século seguinte, sendo amplamente cultivado e disseminado pelos lavradores locais, que o chamavam de arroz-da-terra (Pereira, 2002). O tipo branco, procedente de Lisboa, chegou depois à província maranhense, em 1765, mas os rizicultores recusaram-se a produzi-lo. Por isso, a Coroa decidiu proibir o cultivo e do vermelho numa restrição que vigorou mais de 120 anos e resultou na sua marginalização e quase desaparecimento no estado do Maranhão. A Paraíba é considerada o refúgio desse arroz no Brasil, cultivado em pequenas propriedades e força de trabalho familiar. Ele era beneficiado no pilão pelas próprias famílias produtoras e era encontrado nas feiras livres, já beneficiado, e nos pequenos comércios locais (bodegas). No Brejo Paraibano, até a década de 1960 ele predominava, acompanhando o feijão e a mistura (proteína), preparado na água e sal, com carne e/ou costela suína salgadas. Como arroz de leite, acompanhava a carne de sol, sendo comida de jantar. Considerado comida de pobre era substituído nas festividades: casamento, batizado ou festas de inauguração de casa (festas da cumeeira), quando o tipo branco assumia o protagonismo, cozido separadamente e afinado na graxa (caldo gordo) de galinha e chamado arroz de festa. Com o passar dos anos, perdeu espaço para o arroz da classe longo fino, comercialmente conhecido como arroz-agulhinha, o mais consumido no Brasil (Conab, 2015). Por ser translucido, solto e firme após o cozimento, é mais rápido e fácil de fazer. Próximo das prateleiras desse que também é o mais barato dentre todas as opões de arroz apresentadas, está o arroz vermelho, agora na prateleira reservada aos arrozes especiais, com preço superior ao branco, alcançando o dobro do preço daquele. O objetivo deste trabalho, que faz parte de uma pesquisa de doutorado, é compreender as continuidades no sistema de plantio e distribuição do arroz vermelho para a população local em suas práticas cotidianas e sua ressignificação pela gastronomia de Bananeiras (PB), observando os restaurantes instalados na cidade e que integram um projeto de turismo iniciado em 2006 com foco em mais de 15 condomínios fechados de casas individuais dali. Buscamos entender quem são os produtores e como se beneficiam dessa ressignificação gastronômica. Como a população local usa o arroz cotidianamente, e principalmente no preparo dos pratos chave da culinária festiva local como o rubacão (uma variação do baião de dois), acompanhante contemporânea da carne de sol. Finalmente, como o arroz vermelho tem sido apropriado ou reinterpretado pela gastronomia produzida naquele município?