Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 081: Os limiares do corpo: a circulação de substâncias corporais e a produção de pessoas e relações
A busca por biomarcadores de transtornos mentais: notas introdutórias sobre as relações entre luz, vida,
informação e loucura
O presente trabalho pretende refletir sobre pesquisas científicas contemporâneas situadas na intersecção
entre biologia molecular, genética, bioquímica e bioinformática e que voltam seus esforços para a
identificação de biomarcadores de transtornos mentais. Inspirando-se no trabalho de Hans-Jorg Rheinberger
(2000), pretende-se explorar como os vários elementos que organizam técnicas, experimentações e conceitos
científicos, nos mostram os novos arranjos entre as práticas biomédicas contemporâneas e suas
materialidades. Segundo Rheinberger, as conquistas epistêmicas fundamentais do início da história da
biologia molecular estão atreladas a duas condições: A primeira diz respeito à migração do interesse de
pesquisa para elaboração de modelos de sistemas biofísicos, bioquímicos e genéticos simples, como bactérias,
vírus e macromoléculas. A segunda se refere ao desenvolvimento tecnológico no âmbito da biofísica,
bioquímica e genética, como a cristalografia de raio X, ultracentrifugação analítica, cromatografia, dentre
outras. Assim, se quisermos observar o processo de estabilização de moléculas, genes e de quaisquer outros
marcadores biológicos, precisamos orientar nosso olhar à coprodução das teorias científicas e das técnicas.
Ao nos voltarmos sobre o espaço de tradução entre a técnica, experimentação e a elaboração de conceitos
científicos, poderemos obter outras imagens da relação entre saber/poder a partir daquilo que se faz antes
de um biomarcador tornar-se um fato científico. Neste cenário, substâncias corporais molecularizam-se sob a
forma de proteínas, metabolitos e transcriptomas em sua relação com dispositivos laboratoriais e algoritmos,
articulando-se em uma crescente infraestrutura cujo desenho experimental estabelece relações entre luz,
vida, informação e loucura, apontando para os limiares de regimes biopolíticos contemporâneos e
rearticulando o velho debate acerca dos determinantes biológicos da loucura.