Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 016: Antropologia dos Povos Tradicionais Costeiros: Práticas Sociais, Disputas Identitárias e Conflitos
Caiçaras do norte de São paulo e a mitilicultura: Territórios em disputa e tecnologias de resiliência diante o Antropoceno
O presente estudo etnográfico busca investigar formas contemporâneas de resiliência e adaptação desenvolvidas por comunidades caiçaras diante dos desafios impostos pelos novos contextos nos quais estão inseridas, com ênfase em experiências observadas na Praia da Cocanha, em Caraguatatuba, litoral norte de São Paulo. Tais grupos, formados por pescadores e agricultores de subsistência, cujas práticas culturais estão fundamentalmente ligadas ao ambiente marinho e costeiro, vêm enfrentando cada vez mais os impactos diretos da globalização dos processos econômicos e das mudanças climáticas associadas ao Antropoceno. Tais impactos não se limitam apenas ao clima e aos ecossistemas, mas também afetam as estruturas existentes e os ciclos naturais, resultando em prejuízos econômicos e sociais para esses grupos que, de acordo com Diegues e Gassala (2011), possuem um caráter singular associado aos vínculos peculiares com os ecossistemas que habitam, especialmente o mar, onde passam a maior parte de suas vidas, e que têm sido cada vez mais afetados por intervenções humanas e fenômenos atmosféricos capazes de transformar suas condições. A partir deste contexto, esta pesquisa tem como objetivo analisar como esta comunidade caiçara tem desenvolvido tecnologias adaptativas e de resiliência para permanecer em seu território, com especial atenção para as atividades de pesca e cultivo de mexilhões, atividade econômica emergente na região. Considera-se, aqui, a implementação das fazendas marinhas de mexilhão enquanto uma nova técnica de manejo e domesticação do ambiente, representando uma forma de resistência e alternativa para aqueles que optam por permanecer em seus locais de origem. Através desta perspectiva vislumbra-se uma valiosa reinvenção da relação com o mar por parte destes indivíduos, essencial tanto para a comunidade da Praia da Cocanha quanto para a cultura caiçara como um todo.
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