Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 011: Antropologia da técnica
Cabeça de Gente, Cabeça de Peixe, Ponta de Dedo e Ponta de Faca: Minha experiência de registro e estranhamento ao filetar uma anchova
Essa ideia veio de uma conversa com meu orientador, e ao pensar sobre o mercado de pescados e como se dariam os cortes feitos nas peixarias, ele me propôs a como seria necessário não só fazer etnografia, mas também fazer antropologia (Ingold, 2015; 2016). Fazer antropologia no sentido de realizar o corte de um peixe como uma tentativa de aprendizado. Ou seja, cortar o peixe fazendo antropologia como educação da atenção.
Utilizei dessa estratégia também inspirado em Sautchuk (2013; 2014) e sua pesquisa com a pesca com arpão. Assim, seria uma maneira não só de aprofundar meu conhecimento na prática do corte e pensar em novas questões para meus interlocutores, mas também de registrar todo o passo a passo. Esse movimento tinha como a intenção o aprendizado pela prática, percebendo o processo pelo corpo e pelo movimento, trazendo a questão de como se trás uma pessoa para o centro dessa atividade realizada. Essa atividade também nos mostra muito sobre vários processos e corpos diferentes. Assim, a ideia aqui é que nesse exercício estarei aprendendo sobre esses processos, corpos e também construindo novas questões sobre o campo que fiz (Ingold, 2015; 2016).
Pensando junto ao ensaio Andando na prancha de Tim Ingold (2015), também cheguei a conclusão de que sua experiência serrando uma prancha de madeira e a minha cortando um peixe (no caso, uma anchova) dividem algumas similaridades. Da mesma forma que, o corpo de quem serra uma prancha participa ativamente do exercício, o corpo de quem corta também participa ativamente do corte. O corte depende de uma junção de muitas coisas.
Apesar de conseguirmos pensar em um passo a passo para ser aplicado no corte, ainda dependemos de muitas variáveis. Como: qual peixe é este, se sua carne está rígida, qual resultado é almejado e et cetera. O que ressalto aqui é que seria muito difícil construir uma espécie de guia, justamente por causa da quantidade de variáveis, pois, além dessas variáveis do peixe, ainda temos que pensar nas variáveis do corpo de quem corta e em como dois movimentos nunca serão iguais (Ingold, 2015). Existe também uma especificidade em relação ao corte. Diferente de uma caminhada, por exemplo, o corte não desaparece.
Tudo isso também diz respeito a criação de uma sensibilidade no olhar, não só quando pensamos no corte, mas também no registro. Pensando que o meu repertório de conhecimento que vai me ajudar a entender o que está acontecendo (Novaes, 2021), é também a partir do desenvolvimento dessa sensibilidade que irei notar muito dos que meus interlocutores me dizem e conseguir perceber o meu avanço nesse aprendizado.