ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 101: Trabalhos etnográficos com população em situação de rua: modos de existir/resistir, políticas, governos e agências
Circulação da população em situação de rua nas margens da zona sul de São Paulo: etnografia dos escombros
O presente trabalho apresenta resultados parciais do trabalho de campo de uma pesquisa de doutorado. O objetivo central da investigação é analisar etnograficamente a circulação de pessoas em situação de rua com transtorno mental e problemas decorrentes do uso de drogas nas margens da zona sul de São Paulo. Estabelecemos a lei 10.216 de 2001 como clivagem da assistência à saúde mental no Brasil. A partir de então, serviços substitutivos ao hospital psiquiátrico inauguraram a lógica psicossocial e comunitária de atendimento, estabelecendo o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) como ponto central do novo formato. Dez anos depois, a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) surge como uma consolidação da reforma psiquiátrica por articular diferentes instâncias e serviços de saúde pertencentes à atenção básica e especializada. No entanto, mesmo com a instituição da RAPS, um equipamento de caráter psiquiátrico perdurou como um de seus componentes: a comunidade terapêutica. Na prática, essas instituições operam de forma contrária à reforma, frequentemente produzem tratamentos sem qualquer cientificidade e violam os direitos humanos. O que temos observado no território pesquisado não tem sido diferente. O distrito do Grajaú está localizado às margens da zona sul de São Paulo. Além dos altos índices de vulnerabilidades, o território conserva algumas peculiaridades da vida urbana de São Paulo, por exemplo, as formas de ocupação do território. De um lado intensos processos de urbanização propiciados pelo aumento significativo da população nas últimas décadas. De outro lado modos de vida rural, que vão desde produções agrícolas, artesanatos e bazares orgânicos, a espaços de lazer e coletivos agroecológicos. Entretanto, outro aspecto marca a região: o arranjo dos aparelhos de Estado. A partir do trabalho etnográfico temos observado que a dinâmica territorial produz encontros, usos e circuitos diferentes daqueles prescritos nas políticas. Sob esse prisma a população em situação de rua pode ser exemplo, o cotidiano dessas pessoas evidencia fragilidades e insuficiências de programas e serviços, sobretudo, de saúde mental. O funcionamento desse mecanismo faz com que boa parte dos usuários procurem por internação em comunidades terapêuticas quando pretendem acolhimento institucional ou algum tipo de cuidado de saúde. Nessa seara, uma dupla questão emerge: quais rearranjos a RAPS precisa realizar para acolher a parcela que esquiva, ao mesmo tempo como fazer para que esses usuários se sintam acolhidos por ela. Além disso, que mecanismos deveriam existir para conter a proliferação de comunidades terapêuticas clandestinas na região.