Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 012: Antropologia das Emoções
Emoções em narrativas de pessoas trans e travestis: possibilidades de agência
Nas últimas décadas, as pessoas trans e travestis iniciaram o processo de desvelamento de suas vidas e ocupação do espaço social, em áreas diversas como a academia, política, artes e cultura, entre outras, demandando respostas da sociedade às suas reivindicações enquanto sujeitas/os/es de direitos. Para tanto, faz-se necessária a produção de conhecimento sobre o assunto, bem como a geração de imaginário que abarque a variedade de possibilidades existenciais humanas. No âmbito da literatura não-ficcional, reconhece-se a abertura para as autobiografias de pessoas trans e travestis, fonte de descrição de experiências que confrontam o modelo binário, cisgênero e heterossexual de vivenciar a sexualidade. Esta proposta de apresentação, recorte de projeto de doutorado em andamento, pretende refletir sobre a possibilidade de se identificar, por meio de emoções expressas na narrativa autobiográfica, agenciamentos provenientes de experiências que não as marcadas pela opressão. Emoções, assim, entendidas como sentimentos tonalizados pelos contextos sociais e culturais em que aconteceram, capazes de possibilitar movimentos de legitimação e pertencimento, configuram-se em movimentos micropolíticos. Dessa forma, amplia-se a sua dimensão para que sejam consideradas como práticas sociais, fora do modelo restritivo que somente as têm enquanto expressão da natureza humana. O material empírico é a tese de mestrado em sociologia defendida em 2014 por Letícia Lanz, “O corpo da roupa. A pessoa transgênera entre a transgressão e a conformidade com as normas de gênero”, bem como o livro dela derivado, lançado em 2021, “A construção de mim mesma. Uma história de transição de gênero”. Tal eleição se deve ao fato de que sua narrativa retrata a passagem do cenário brasileiro em relação aos costumes e, particularmente, à sexualidade - nascida em 1951, pode vivenciar a longa abertura para subjetividades diversas alcançada pelo país, dos anos de repressão da ditadura à abertura à diversidade e inclusão social, embora as anacrônicas correntes opositoras sempre atuantes. O foco analítico, sob olhar interdisciplinar, é o dos estudos de gênero, antropologia das emoções, feminismos, transfeminismo e psicanálise, enquanto geradores de sentidos em que se entrelaçam aspectos singulares, sociais e políticos. A importância desse trabalho está em ressaltar aspectos afirmativos de uma comunidade que se destaca por ser vitimizada pela violência e transfobia social, além de promover discussões sobre a permanência da construção do binarismo, bem como as rupturas possíveis ao status quo.