ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 079: O visível e o in(di)visível: ciências, conhecimentos e produções de mundos.
Entre presenças e ausências: reflexões parciais acerca da materialização da saúde da população negra nos saberes, práticas e políticas
Minha pesquisa de doutorado em antropologia social investiga os usos, sentidos e processos de materialização da saúde da população negra nas práticas e saberes médicos e nas políticas de saúde. Promulgada em 2009 no Brasil, a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN) oferece orientações e evidências sobre as doenças mais prevalentes para pessoas autodeclaradas pretas e pardas, destacando como raça e racismo produzem efeitos concretos nos processos de nascimento, vida e morte. Neste trabalho, busco descrever alguns impasses encontrados durante o trabalho de campo, que tem sido conduzido desde março de 2023, centrados no suposto descolamento entre saberes e práticas, além da invisibilidade da saúde da população negra no cotidiano de um centro de saúde de atenção primária. Tais impasses conduzem-me a buscar o que está ausente, em vez de levar a sério apenas o que está presente. Minha atenção à prática surgiu, precisamente, após um evento etnográfico no qual uma profissional de um grande hospital público da cidade de São Paulo interpelou um médico-pesquisador em sua apresentação de evidências científicas sobre os impactos do racismo nos processos de saúde e adoecimento, dizendo mas, quando vamos à prática é tudo diferente”. Assim, sobre quais diferenças ela se refere? Inicialmente, minha proposta com a pesquisa de doutorado era focar nos processos de produção de conhecimento científico sobre saúde da população negra na medicina. No entanto, ao longo do trabalho de campo, percebi a importância de atentar-me a como esses saberes fazem-se presentes ou não nas práticas, já que, na visão dos sujeitos da pesquisa, há mais descolamentos do que aproximações. Diante disso, compreendi que seria necessário um esforço etnográfico para tornar visível coisas que estão supostamente invisíveis, uma vez que a saúde da população negra, assim como raça e racismo, não são deliberadamente acionados nas práticas médicas, mesmo estando presentes através de suas ausências. Por fim, tomo emprestada a ponderação feita pela funcionária do hospital e a torno uma pergunta especulativa para este trabalho: por quais motivos, quando vamos à prática, tudo é diferente?