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Trabalho para Mesa Redonda
MR 21: Desafios e (re)existências das parteiras tradicionais no Brasil: diálogos teóricos e práticos
Parteiras tradicionais do Brasil e a construção compartilhada de uma narrativa patrimonial
A partir de minha experiência de trabalho com parteiras tradicionais, procurarei refletir sobre a construção de uma narrativa patrimonial acerca do ofício, que sustenta o dossiê entregue ao Iphan para o registro como patrimônio cultural do Brasil. A trajetória do processo de patrimonialização do ofício de parteira tradicional, o qual participo desde o início, remonta o ano de 2008. Desde então, diversos projetos de pesquisa (identificação), projetos de fomento e valorização (salvaguarda) foram realizados, a exemplo da iniciativa Museu da Parteira, tocado por antropólogas, parteiras e ativistas. Estes projetos sempre foram elaborados a partir das sugestões, ideias e anseios das parteiras - filmes, exposições, livros e encontros - com o apoio de uma equipe de não-parteiras que auxilia no planejamento e execução. Este trabalho técnico pressupõe o domínio de certas categorias teóricas e das políticas públicas e a metodologia de elaboração de projetos, atividades que já sinalizam para o acionamento de uma narrativa patrimonial. Gostaria de refletir sobre o caráter participativo desta atuação conjunta de parteiras e antropólogas - esta espécie de curadoria compartilhada - como um processo rico para ambas as partes. Temos utilizado a ideia de simbiose, da parteira pernambucana Dona Prazeres, para refletir sobre o ofício tradicional, pelos contatos estabelecidos por elas em suas comunidades, pelos diversos papeis desempenhados, e pelo acionamento de diferentes saberes. Sugiro que a narrativa patrimonial construída ao longo destes anos de convívio é também marcada por uma simbiose, entre saberes populares e acadêmicos, entre o domínio de diferentes linguagens e expertises, acionados para uma mesma finalidade.