ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 095: Saberes plurais em torno do uso de drogas
Os antropólogos do Daime: a planta professora e as etnografias
Este resumo visa apresentar resultados parciais de minha pesquisa de doutorado que vem sendo desenvolvida junto ao PPGAN-UFMG. Parto da categoria antropólogo ayahuasqueiro”, forjada por Beatriz Labate em sua dissertação de mestrado publicada posteriormente como livro (2000; 2004). Esta categoria pressupõe um duplo viés, pertencimento, inserção, iniciação – ser antropólogo e ser ayahuasqueiro – e seria um caminho possível para permanecer ligado ao fenômeno a partir de dentro mas também de fora”. O lugar de fala do antropólogo ayahuasqueiro é, afirma Labate, potencialmente rico. Para a presente pesquisa, entrevistei vinte antropólogos e antropólogas que escreveram dissertações ou teses sobre religiões e contextos da ayahuasca – a maioria ligada ao Daime, seja a religião, seja a própria bebida com a mesma denominação. Proponho, portanto, a criação de uma nova categoria, os antropólogos do Daime”, para designar os antropólogos(as) que tecem densas tramas de relações com a religião daimista e/ou com o próprio Daime, uma bebida professora que, dentre outras potencialidades, ensina. O objetivo é descrever e analisar o trabalho de campo e a escrita etnográfica destes antropólogos que possuem diferentes níveis de pertencimento: dirigentes de centros, membros filiados, ex-membros, participantes-frequentadores, simpatizantes. Sendo o Daime o professor dos professores”, é impactante em suas narrativas nas entrevistas a influência do Daime tanto na execução do trabalho de campo quanto no próprio processo de análise e escrita. Neste diálogo e interação entre humano e planta, os antropólogos empreendem pesquisa na força (o efeito mágico/psicoativo da bebida) e se apoderam de insights e entendimentos cujos efeitos estão intensamente presentes, mas quase nunca evidenciados, nas etnografias. Por fim, é importante ressaltar que eu, sujeito de escrita dessa pesquisa, me posiciono como antropólogo ayahuasqueiro / antropólogo do Daime.