ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 029: Arquivos, coleções e objetos de arte: artefatos e invenções em perspectiva etnográfica
Os materiais educativos do Coletivo LGBT Sem Terra e seus impactos na luta pela reforma agrária do MST
Este trabalho tem por finalidade analisar os materiais produzidos pelo Coletivo LGBT Sem Terra, como cartilhas, livro e documentário. Busca-se compreender como os objetos são utilizados pelo Coletivo, tendo como foco as atividades realizadas no Extremo Sul da Bahia. O Coletivo LGBT Sem Terra faz parte do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e tem por objetivo construir uma comunidade camponesa sem a presença de LGBTI+fobia. Um caminho importante para esse processo de transformação é a educação, sendo os objetivos aqui analisados produzidos com intuito de educar a população sem terra produzindo um movimento de luta pela reforma agrária que seja acolhedor para a população LGBTI+. Também consideramos que esses materiais dialogam com a construção de identidade coletiva desses sujeitos enquanto LGBT Sem Terra. Esta pesquisa possui um caráter interdisciplinar, e mescla metodologias da história, pensando na história do tempo presente, e da antropologia. Inspirado nas ideias de José Reginaldo S. Gonçalves (2007), em que trata da “antropologia dos objetos”, além de pensar em metodologias do campo historiográfico, como a análise interna e externa das fontes, buscamos analisar, além do conteúdo interno, como acontece a relação entre os camponeses sem terra e esses materiais. Foi possível perceber diferenças entre os textos das cartilhas, e do livro de memória, por exemplo. Enquanto as cartilhas têm por objetivo uma circulação interna, aparecem relatados casos de LGBTI+fobia sofrido dentro dos espaços do MST, apresentando caminhos de denúncia interna para punição dos agressores. Esse texto deixa claro que ainda há LGBTI+fobia no MST, e que precisa ser combatida. Já as narrativas do livro de memórias e do documentário, percebe-se um tom mais positivo, mostrando as conquistas do Coletivo, exemplos de pessoas LGBTI+ que vivem em assentamentos e acampamentos, representando de forma mais positiva a relação entre o MST e as pessoas LGBTI+. Há ali, um cuidado na hora de denunciar casos de LGBTI+fobia, pois não é interesse desse Coletivo difamar o MST. Portanto, mesmo havendo avanços a serem alcançados, quando se dialoga com espaços fora do movimento, o Coletivo procura representar de forma positiva o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, pois também se entendem pertencentes a tal. Para compreendermos esse diálogo entre identidades, que nem sempre são complementares, buscamos dialogar com o conceito de interseccionalidade de Patricia Hill Collins (2022) e de Kimberlè Crenshaw (2002). Essas ideias nos ajudam a compreender como esses marcadores sociais dialogam na vida desses sujeitos, e não há nenhuma intenção de apagar uma identidade em detrimento da outra, buscando caminhos para que suas vivências e lutas caminhem juntas.