ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 016: Antropologia dos Povos Tradicionais Costeiros: Práticas Sociais, Disputas Identitárias e Conflitos
Uma “floresta oficial em uma paisagem social: a criação de Unidades de Conservação em Porto Belo/SC
"Na região de Porto Belo, Santa Catarina, o processo de criação de reservas teve início no final da década de 80 e concretizou-se com a criação da Reserva Biológica Marinha do Arvoredo criada, através do Decreto Federal n° 99.142 de 1991. Esta inviabilizou algumas modalidades de pesca e a comunidade tradicional do Araçá viu-se obrigada abandonar esta importante área sob o risco de tornarem-se infratores da lei ambiental. Mais recente foi a criação da Área de Proteção Ambiental Ponta do Araçá através do Decreto 395 de 30 de Abril de 2008. Esta, ao demonstrar a importância daquele território para a comunidade tradicional em seu Plano de Manejo conseguiu assegurar maiores restrições em determinadas localidades auxiliando a preservação da própria comunidade em vista os conflitos presentes com as pessoas “de fora”. As interferências ocorridas na região ao longo de cinco gerações levaram a modificar o modo de vida, de habitar, de ocupar o território e também as práticas de agricultura e pesca desta comunidade. Entretanto, a paisagem do Araçá, é natural e social ao mesmo tempo, é uma coisa só. Ingold (2000a) afirma que a paisagem é a expressão da relação entre os seres humanos e o meio ambiente e que não é um objeto estático, mas um organismo em movimento. A paisagem para os pescadores é mais do que uma representação simbólica, pois seus pesqueiros existem concretamente, e podem deixar de existir pelas restrições que as UC´s podem impor, ou pela ação de outros empreendimentos que ganham existência concreta através de práticas de gestão e de restrição da relação dos pescadores com as ilhas do Arvoredo, ou com outras áreas, através de políticas públicas. Em minha pesquisa atual, tenho ponderado sobre o papel das Unidades de Conservação na sua modulação. Procuro em minha análise compreender a criação de Unidades de Conservação integralmente e como um fenômeno sociocultural específico, sendo, portanto, necessário considerar as suas múltiplas dimensões. Me auxilia nesta reflexão o conceito de fricção de Anna Tsing. Ao pensar as UCs como espaços de fricção, entendo que elas são espaços onde diferentes valores e práticas sociais se encontram e se confrontam. As UCs são criadas por meio de processos de negociação e conflito, e são constantemente moldadas por essas interações. Anna Tsing me provoca a questionar: como se impõe uma “floresta oficial em uma paisagem social? Como se constrói a paisagem da Comunidade do Araçá combinando seus morros, roças, barcos de pesca, peixes, ilhas, praias, mares e matos com Unidades de Conservação, navios, lanchas e urbanização? "