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Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 060: Experimentos de Ontologia: formas de mundialização desiguais e etnografia como atuar criativo.
Alcances da etnografia para pensar equivocações: encontros de mundos e a categoria terra a partir dos Kiriri do Acré
Os Kiriri do Acré habitam uma terra no Sul do estado de Minas Gerais desde 2017 quando deixaram a aldeia Kiriri de Barra, localizada no Oeste da Bahia, em busca de um lugar em que pudessem dar continuidade em suas vidas. O deslocamento teve como estopim um conflito familiar entre irmãos, no entanto foi justamente o desejo de ter uma terra em que pudessem plantar, trabalhar, praticar a ciência e o toré, e viver como consideram possível que fez com que dezesseis famílias seguissem o cacique Adenilson até o Sul de Minas Gerais, mais de mil e seiscentos quilômetros distantes de sua antiga aldeia. A ocupação da terra realizada por essas famílias foi aceita pelo verdadeiro dono do lugar, um velho índio tapuia, que apareceu na ciência, e com quem os Kiriri negociaram sua estadia no lugar. Por serem índios também, as famílias obtiveram a permissão do velho índio para ali estabelecerem morada. No entanto, os Kiriri também precisam lidar com outra esfera de luta para permanecerem na terra desejada. Os sessenta hectares ocupados por essas famílias têm como seu proprietário legal o estado de Minas Gerais, com quem os Kiriri travaram intensas negociações. Em muitas dessas reuniões de negociação estive presente como antropóloga, nossa antropóloga, como algumas vezes me apresentaram aos agentes estatais. Em outras ocasiões também fui convidada pelo chefe da aldeia, o cacique Adenilson, e sua esposa, a também liderança Carliusa, a compor mesas em eventos acadêmicos para falar da situação da aldeia. Em todas essas ocasiões, o saber científico produzido pela antropologia fora solicitado como uma espécie de prova para dizer que aquelas pessoas eram indígenas que já haviam acordado sua estadia com o verdadeiro dono daquele lugar. Nesse sentido, sob os olhos da ontologia como método, este trabalho tem como objetivo discutir os alcances da etnografia para pensar as equivoções geradas a partir do encontro de mundos, neste caso pensando especificamente no que terra pode significar para os Kiriri e o que o mesmo termo quer dizer ao estado de Minas Gerais.