Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 014: Antropologia das Relações Humano-Animais
“Mãe de pet existe? O conflito moral acerca da maternidade de cães e gatos
A partir dos avanços no campo do direito dos animais, marcados principalmente pela adoção da perspectiva na qual os animais passam a ser considerados seres sencientes (PERROTA, 2015), as relações entre humanos e animais continuam a sofrer transformações de ordem moral. É cada vez mais profunda a introdução dos animais de companhia nas relações familiares. Ao serem compreendidos como filhos, ou membros das famílias, os cuidados providos por seus parentes podem partir da ideia de posse responsável (OSÓRIO, 2011). Esse processo deu origem à categoria auto identificada “mãe de pet”; mobilizada para identificar as mulheres que atuam na manutenção do bem-estar dos animais de estimação e estabelecem relação de cuidado e afeto com seus pets. Nessas interações, os animais de companhia passam a ser interpretados enquanto pessoa (MAUSS, 2003) ao invés de um objeto amoral.
Diante dessa figura e das relações de parentesco que possuem com os pets, utilizamos os trabalhos sobre etnologia indígena para pensar sobre os vínculos identitários e afetivos que também constroem o parentesco. Longe de reafirmar a dicotomia natureza – cultura em uma chave analítica de pré-modernos x modernos, o diálogo com os textos sobre o parentesco em sociedades indígenas serve para refletir sobre como tais práticas podem ser pensadas no caso das “mães de pet e na construção do vínculo afetivo que elas têm com seus animais.
Diante dos exemplos de parentesco estabelecido com os animais entre os povos indígenas, num esforço de estranhar o familiar, constatamos que existem outras formas de interpretar as relações entre espécies, de maneira que a interpretação do parentesco por parte das sociedades modernas não é natural, muito menos universal. Nesse sentido, compreendemos que o pensamento moderno é uma construção social embora reivindique um caráter natural, objetivo e auto evidente. Considerá-lo uma construção social nos permite reconhecer suas transformações, assim como permite pensar em outros modos de parentesco, inclusive multiespécie.
Podemos utilizar as referências emergentes do campo dos estudos das dinâmicas sociais interespécies em conjunto com outras discussões teóricas das ciências sociais para a construção de importantes reflexões antropológicas sobre o parentesco autodeclarado dessas mulheres com seus animais de estimação. A análise da controvérsia existente com relação às “mães de pet nos leva a uma reflexão crítica que problematiza a dicotomia natureza e cultura na medida em que percebemos a constituição do parentesco entre humano e animal. Tal discussão é permeada por questões morais das relações entre humanos e animais e da família enquanto instituição social.
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