Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 069: Maternidades Violadas: desigualdades, violências e demandas por justiça e direitos
FISICAMENTE AUSENTES, PRESENTES NOS DISCURSOS: Sobre a produção de discursos acerca das mulheres mães de
crianças e adolescentes acolhidas institucionalmente
Este artigo tem por objetivo refletir sobre a produção dos discursos acerca das mulheres mães de
crianças e adolescentes acolhidos/as institucionalmente em uma Casa de Acolhimento localizada no estado da
Paraíba. A pesquisa que resultou nos dados expostos neste trabalho foi realizada junto a uma instituição de
acolhimento no ano de 2021. De modo a embasar a reflexão sobre como esses discursos são produzidos no espaço
da Casa de Acolhida e como eles criam representações de maternidade e práticas de cuidado dentro deste
espaço, selecionei três histórias que tive contato durante meu ano de pesquisa, onde o ponto que entrelaça
essas três histórias é a figura de uma mulher responsável pelo cuidado que aguardava a ordem do juiz para a
reintegração familiar dos sujeitos acolhidos: a história de Muci e sua mãe Corine; a história das três irmãs
Lulu, Vivi e Diana e sua irmã mais velha e maior de idade Fabrícia; e a história do casal de irmãos Dedé e
Pietro e sua mãe Bruna. A partir dos dados foi percebido que apesar de ausentes fisicamente no dia a dia
dessas crianças e adolescentes, a presença destas mulheres dentro da instituição se dá por meio dos
discursos produzidos sobre elas - tanto por parte das crianças e adolescentes quanto dos funcionários e
equipe técnica da instituição - e seus modos de maternar. Os discursos produzidos sobre essas mulheres
muitas vezes são caracterizados por falas moralizantes sobre suas práticas de cuidado, fazendo assim com que
o Estado seja um elemento essencial enquanto produtor de discursos e de representações sobre gênero e
maternidade, tanto na dimensão de quem produz esse discurso quanto em que espaço ele é produzido. Alicerçada
nos dados, posiciono a construção desses discursos como sendo fundamentados na perspectiva que norteia as
políticas sociais, onde a família - a maternidade - é tanto um objeto e instrumento de intervenção como
lugar de suspeita (Schuch, 2013).
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