ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 070: Memórias sensíveis, contramemórias e patrimônios incômodos: políticas, suportes e narrativas nas cidades
Justiça para Marielle: lugares de memória e objetos semente em movimento seis anos depois
O presente trabalho tem como base etnografia de ato realizado em memória de Marielle Franco, brutalmente assassinada em 2018, no dia de sua morte seis anos depois: 14 de março de 2024. O dia de seu assassinato passou a ser um marco na luta por justiça, ou seja, pela responsabilização de quem a executou e mandantes do crime. Tal crime é reconhecido como político dada a sua atuação como defensora de direitos humanos e vereadora. O 14 de março constitui-se também como data de rememoração de lutas e causas a que Marielle esteve vinculada em vida. Aqui parte-se do relato etnográfico visual de um dos eventos realizados na cidade do Rio de Janeiro (onde Marielle nasceu, viveu, atuou politicamente e foi morta) para pensar o papel central de diferentes objetos semente (GOMES, LÂNES, 2023) nesse evento. Tais objetos, como placas, lenços, camisetas, flores ou mesmo a estátua criada em sua homenagem, são mobilizados por diferentes atores no espaço público, fazendo parte do repertório de atualização de sua memória e pedidos de justiça. Se a estátua, onde tem início o ato em questão, constitui-se em lugar de memória (NORA, 1997) e de ativação de causas e atores políticos em diferentes momentos, outros objetos (flores, camisas, lenços, placas etc.) podem ser pensados como vetores e mediadores de sua memória pela cidade. Tais objetos junto a grafites, estêncis, lambes etc. marcam o espaço público a partir de atuações mais ou menos efêmeras. O ato em análise contou com uma caminhada pelo Centro culminando com a tomada das escadarias da Câmara Municipal, onde ela atuava como vereadora. A Câmara dos(as) Vereadores(as) do RJ está localizado na Cinelândia, espaço emblemático para movimentos sociais progressistas, onde foi realizada vigília após seu assassinato e onde a placa de rua foi originalmente substituída pela intervenção artística quebrada por opositores e, posteriormente, resgatada como símbolo da resistência da importância política de Marielle. No breve trajeto da caminhada, as participantes (em sua maioria mães e familiares de vítimas do Estado) mobilizaram imagens, palavras de luta e objetos conectando legado e memória de Marielle a outros eventos e causas, sobretudo ao assassinato de seus filhos (jovens negros moradores de favelas e periferias) e à luta por justiça. Aqui pensamos, portanto, os usos e formas de produção de memória no contexto de ativismo e mobilizações sociais públicas marcadamente urbanas a partir da memorialização pública de Marielle Franco.