Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 044: Dialéticas da plantations e da contraplantation: expropriação, recusa e fuga
Vidas dominicanas no vestígio: enredos de negridade, formas de refúgio como vigília e suas marés
O trabalho apresenta duas formas de vestígio, conforme o termo foi definido de modo polissêmico por Christina Sharpe, ao seguir os rastros e modos de vigília que encontrei em minha pesquisa de campo com ex-combatentes da revolução dominicana de abril de 1965. A revolução é tomada enquanto um dos breves momentos em que a maré da história dominicana acena a um contra-movimento (como as tidalectics de Kamau Brathwaite). A ausência do território dominicano nos registros das plantations coloniais dos séculos XVI ao XIX, não impediu que no século XX, se formassem plantações açucareiras vinculadas à interesses imperiais, em paralelo ao autoritarismo que ocupou mais da metade deste século no país. São vidas atravessadas pelos movimentos de expropriação do século XX que me interessam: ora expressos como violência física, ora na imposição da migração como fuga (que faz dos Estados Unidos a outra fronteira dominicana, além do Haiti). Para tanto, retorno aos itinerários da Fundação de Solidariedade aos Heróis de Abril (FUSHA), organização da qual faço parte, para descrever suas formas de vigilar (seguir os rastros e velar) vidas de pessoas negras dominicanas que participaram da revolução. Mais especificamente tratarei da busca de Tirso Medrano (poeta, advogado, presidente e fundador da organização) no refazimento dos enredos da trajetória da famosa combatente Tina Bazuca. Ao partir destes achados do acervo da FUSHA, ou retornar a tais materiais co-produzidos em campo, argumento que o gentilício que define uma pertença nacional às trajetórias descritas, é somente mais um vestígio das maquinações da plantation. De modo que as atividades da fundação operam, e esse é meu segundo argumento, como refúgios, frestas, contra-arquivos, que se deixam ver entre os vestígios e ruínas coloniais da cidade de Santo Domingo.
© 2024 Anais da 34ª Reunião Brasileira de Antropologia - 34RBA
Associação Brasileira de Antropologia - ABA