Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 060: Experimentos de Ontologia: formas de mundialização desiguais e etnografia como atuar criativo.
Perspectivas Dissidentes e Criatividade na Segurança Pública Brasileira
Quando se discute segurança pública no Brasil, é comum a percepção de que a polícia é "que mais mata e
morre". Por um lado, há as pessoas afetadas pela letalidade policial especialmente os jovens negros e
pobres; por outro, os agentes enfrentam um sistema hierárquico que coloca praças sob o comando dos oficiais,
dentro de uma estrutura conhecida como "militarismo". Eles também lidam com diversas condições de sofrimento
e doença, assédio, autoritarismo, violência e, frequentemente, suicídio, que os afeta mais do que os
confrontos em serviço. Inspirado na ideia de que "o abismo não nos divide, nos circunda", de Wislawa
Szymborska, mencionada por Isabelle Stengers (2015), e seguindo uma antropologia simétrica (Latour, 1994),
esta comunicação apresenta dados preliminares de uma etnografia a partir de ativistas ex-policiais
militares. Suas criações e engajamentos políticos dissidentes oferecem compreensões diferentes dos problemas
típicos da autoridade generalista de um imperativo universalista. A existência de múltiplos mundos e a
aceitação de tempos difíceis desfazem grandes divisões como entre "militar" e "civil" e promovem atos
criativos que inventam novas formas de resistir à dominação das instâncias de poder. À maneira do desbunde
contracultural, os interlocutores mobilizam outras políticas, dentre as quais, agenciamentos a partir do
humor, da grosseria, do insulto, da injúria, da sátira e, enfim, da transgressão à ordem, valor maior do
"militarismo"; que, de modo agonístico, habilita, nos termos de Stengers, possibilidades de resistência à
barbárie.