Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 019: Antropologia dos/nos Gerais
Caminhos das águas: a produção dos brejos e das culturas
No gerais, na margem esquerda do Alto rio São Francisco, Semiárido mineiro, as fontes de água foram e são delimitadoras de territórios e de soberania alimentar durante épocas de cheias ou de secas. Das chapadas aos mananciais, as populações geralistas criaram e criam domínios agrários e habitações mediadas pelo acesso à água. Nesta região, formas de insurgências, os brejos, tiveram papel fundamental no provimento das famílias, na criação de modos de vida e de sistemas de produção de alimentos baseados no uso comum de terra e águas. Os brejos são agroambientes socialmente construídos e categorizados a partir do conhecimento tradicional sobre a natureza. Entretanto, políticas de modernização da agricultura baseadas nos princípios da revolução verde, implantadas na região a partir da década de 1970, foram responsáveis por expropriações de acesso às águas e às terras tradicionalmente ocupadas por agricultores familiares; concomitantemente, cenários de mudanças climáticas, fomentados pelos padrões de produção e consumo de recursos da natureza instituídos, agudizaram questões socioambientais vinculados à morte e secamento de mananciais. Comunidades rurais precisaram se reorganizar para lidar com as mudanças impostas, buscaram então criar narrativas, técnicas e formas de ocupar o espaço geográfico e enfrentar os conflitos socioambientais, resistindo e compartilhando seus saberes e fazeres sobre as águas. É neste sentido, e com base na perspectiva teórica-conceitual de ciclos hidrossociais, que este trabalho apresenta resultados preliminares de pesquisa de dissertação cujo objetivo geral é compreender como as mudanças sociais e climáticas impactam as populações tradicionais que constituíram seus modos de vida a partir da convivência com os brejos, em comunidades rurais do gerais.
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