ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 050: Entre arte e política: articulações contemporâneas em pesquisas antropológicas
Transmutação Têxtil e a Travestilização da Moda
Embora a academia ainda tenha uma relutância em problematizar a Moda em vista de um senso comum que a insere no campo da futilidade, este trabalho trata da Moda com M maiúsculo, enquanto sistema ou melhor [c]istema (VERGUEIROS, 2015), o mesmo que Sant’Anna (2005;2007) vem afirmando ser a própria dinâmica da modernidade de modo que uma não existiria sem a outra. Deste modo, desacuendando da repetição do debate de defesa da legitimidade da Moda enquanto ciência ou arte, e seguindo o pedido de não hierarquização do triângulo arte, política e antropologia proposto por Grunvald, Raposo e Roca (2023). Este trabalho objetiva avançar debate sobre Moda e indicar o rico campo etnográfico a respeito de grupos, coletivos de estilistas trans/travestis/NB que utilizam de suas artes para problematizar o [c]istema Moda. Para tanto, o texto se divide em duas partes, na primeira apresento brevemente o debate já superado a respeito da Moda como uma importante ferramenta moderna (SANT’ANNA, 2005), mas dessa vez iluminado pela ideia de Segato (2016) para qual o gênero, sobretudo o patriarcado, estrutura as relações de poder. Assim, denunciamos a Moda como uma ferramenta da pedagogia da crueldade (SEGATO, 2016). Na segunda parte, apresento que, em contrapartida, já existem caminhos alternativos que denunciam o [c]istema Moda, como a transmutação têxtil, uma tecnologia decolonial desenvolvida por travestis, mas que entretanto a mesma ainda é negligenciado pela academia. Arte, Desfile, manifesto, fashion show, catwalk de vogue, política. Muitas poderiam ser as definições para desfiles de transmutação têxtil. Entretanto, pouco nos importa classificá-los, nos interessa mais discutir a respeito de suas performances sobre duas direções: i) como os mesmos estão análogos ao debate de Dawsey (2005) a respeito de drama social e drama estético do teatro dos boia-frias”, e ii) o discurso necropoético (HEAD 2020; 2023) evidente nesta arte, seja pela comunicação visual das peças, pela performance de quem as desfila ou a paisagem sonora que a acompanha. Por fim, espera-se que este trabalho apresente a potência do campo etnográfico desses grupos e coletives de estilitas, artistas trans que vem propondo novos caminhos metodológicos de Moda, travestilizados e interseccionados com arte, performance e política. Mas que para além disso, também denuncia a negligência do descaso da academia sobre a transmutação têxtil e reivindica a urgência de travestilizar a educação (ODARA, 2020) de Moda no País.