Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 080: Ontologia e Linguagem: línguas indígenas, artes verbais e retomadas linguísticas
Terra adorada, Hino Nacional Ticuna e subversões de sentido
No ano de 1922 o poema de Joaquim Osório Duque-Estrada, adaptado à composição de Francisco Manuel da
Silva, de 1831, se tornou a letra oficial do Hino Nacional brasileiro. Há uma distância de 91 anos entre a
composição musical e a oficialização da letra. Neste intervalo de tempo, a ausência de um poema oficial era
acompanhada pela sua entoação de maneira variada de uma região para outra, frequentemente expressando um
regionalismo que se opunha ao conceito de federalismo e à unidade nacional. Passados 87 anos da composição
da letra do Hino em português, o Hino Nacional brasileiro foi traduzido pela primeira vez para a língua
ticuna, em 2009, pelo professor e mestre em linguística Sansão Flores. Djuena Tikuna torna a versão indígena
do Hino bastante conhecida e mostra que pode ser uma poderosa arma de luta política. Talvez a música de
maior destaque entoada por Djuena seja a versão do Hino Nacional em língua ticuna. Ao traduzir o Hino
Nacional para o idioma ticuna muito do sentido que conhecemos é subvertido, mostrando uma terra adorada e um
Brasil com outras possibilidades de significados. A terra adorada cantada no Hino não é a terra do
agronegócio, do latifúndio e da monocultura. Naane, como se diz em língua tikuna, é uma terra viva, um ente
que deve ser respeitado, que possui os mesmos atributos de uma pessoa (duü) e produz o alimento
do povo.
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