Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 037: Corpo, reprodução e moralidades: disputas de direitos e resistência à onda conservadora
O Bolsonarismo e o Idioma de gênero
O projeto de (in)segurança pública levado a cabo pelo Bolsonarismo é o tema desse artigo. Aqui, buscou-se acessar o sistema de ideias que fornece sentido para as práticas construídas no ponto de encontro entre gênero, família, religião e o regime do medo. Situa as tensões e disputas de sentido em torno dos avanços conquistados pelos coletivos feministas e da população LGBTQIA+. Explora os usos do binarismo de gênero, do neoconservadorismo religioso e da lógica tutelar hiperautoritária para a legitimação de projetos de poder antidemocráticos que insurgem no ideário político brasileiro. Tudo isso justificado por narrativas que falam em nome de valores familiares e que põem em circulação uma ordem social particularizada pela moral e pelo bons costumes da entidade genérica família brasileira com suas marcas branca, cristã, patriarcal e heteronormativa. Uma narrativa que instrumentaliza como necessária a cruzada vigilante dos bons contra os maus e, por sua vez, o recrudescimento da violência e da barbárie contra os sujeitos sociais historicamente colocados no final da fila de ingresso no cercado da cidadania tutelada. Em especial, aqueles que são inscritos e se reconhecem nas agendas públicas ligadas à igualdade de gênero, diversidade sexual, questões indígenas e raciais, defesa social e proteção da dignidade humana. No trânsito argumentativo aqui proposto, ressaltamos o que nos parece ser uma manobra política astuta: permitir que a certos grupos deformarem a concepção de segurança pública como um bem coletivo em uma visão particularista da proteção, zoneando-a a um determinado contexto ideológico em cujo eixo gravita a desfiguração da democracia e do próprio Estado de Direito.
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